Padre Júlio Lancellotti celebra missa presencial após veto de transmissões online
Lancellotti celebra missa após veto de dom Odilo às lives

Na manhã de domingo (21), o padre Júlio Lancellotti conduziu sua primeira missa após ser proibido de transmitir as celebrações pela internet. O evento, que agora ocorre apenas de forma presencial, reuniu uma multidão na capela da Universidade São Judas, localizada no bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista.

Proibição e Reação dos Fiéis

A decisão de vetar as transmissões online partiu do arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, dom Odilo Scherer, que classificou o assunto como "algo entre um bispo e seu padre". Em resposta, Lancellotti divulgou uma nota mencionando um "período de recolhimento temporário". A Arquidiocese também determinou uma auditoria financeira na Paróquia São Miguel Arcanjo, onde o padre atua há quatro décadas.

O público, que superou a lotação da capela, demonstrou apoio fervoroso ao religioso, aplaudindo-o em diversos momentos. Um grupo de mulheres transgêneros ergueu um cartaz com a frase "o amor ao próximo não pode ser silenciado". Rafaella Stephanny da Rocha, de 29 anos, expressou seu apoio: "Estou aqui para apoiar o padre que me ajuda muito".

Pregação Social e Simbologia

Em sua homilia, Lancellotti manteve o tom social que o consagrou. Ele criticou a violência contra as mulheres, destacando os feminicídios, e fez referências críticas às elites. "Os lugares mais iluminados de São Paulo são onde não entra Jesus, lá não entram os pobres", afirmou. O padre também acendeu velas simbólicas para o Ocidente, chamado de "prepotente", e para o norte, "lar dos poderosos", em contraste com o sul global.

Após a comunhão, o padre foi homenageado com flores de papel distribuídas pelo movimento Flores pela Democracia. Raul Huertas, porta-voz da pastoral da comunicação da paróquia, leu um texto em sua defesa, afirmando que há uma tentativa de "incriminar e caluniar o clérigo que ousa amar o próximo para além do discurso".

Solidariedade e Manifestações de Apoio

Antes da celebração, um abaixo-assinado em favor do padre já circulava, reunindo centenas de assinaturas, inclusive de não católicos. A professora Teresinha Pinto, de 68 anos, foi enfática: "É um cara ligado à extrema direita, sempre foi", disse, referindo-se a dom Odilo. Para ela, a proibição não faz sentido, pois a missa do padre atrai até quem não é católico.

O casal Luzanira Santana, 51, e Donivan Paladino, 61, compareceu com camisas estampadas com a silhueta de Lancellotti, compradas em um ato pró-Palestina. Eles classificaram a situação como "um absurdo, cerceamento de liberdade" e uma forma de censura. Ao final, o padre fez propaganda de itens do bazar da paróquia, incluindo uma camiseta com o lema "Meu partido é o pão partido", uma clara alusão crítica ao slogan bolsonarista.

O clima foi de solidariedade e resistência, com Lancellotti repetindo seu conhecido lema para a plateia: "Força e coragem, ninguém desanime!". Apesar das restrições impostas, a celebração reforçou o vínculo do padre com sua comunidade e com aqueles que defendem seu trabalho social.