Um ato de violência chocou a comunidade religiosa de Goianira, na Região Metropolitana de Goiânia, na madrugada desta terça-feira (2). A Casa de Axé Ilé Obá Òfuurufú Àṣẹ Afééfé Ayò, um terreiro de Candomblé, foi alvo de um incêndio criminoso. As chamas consumiram parte da fachada do local, situado no Setor Triunfo 1, em um ataque registrado por câmeras de segurança.
O ataque e a fuga do suspeito
Imagens de segurança capturaram o momento em que uma pessoa encapuzada se aproximou do terreiro e ateou fogo. Após as chamas tomarem conta da entrada, o indivíduo fugiu do local. O babalorixá responsável pelo espaço, Max Muller Santos Rodrigues, contou ao g1 que sete pessoas, incluindo ele, estavam dormindo dentro da casa no momento do ataque. Todos acordaram com os gritos de alerta e conseguiram sair ilesos.
"A gente foi dormir, eu acordei com o fogo. Meu filho de santo gritando: 'Pai, tá pegando fogo!'. E tava tudo queimando. Tudo em chamas", relembrou Max. O terreiro se preparava para a Festa das Iabás, marcada para o sábado (6).
Investigação e possíveis motivações
A Polícia Militar foi acionada e esteve no local, mas o suspeito ainda não foi localizado. A Polícia Civil informou que o caso está sob investigação. Um boletim de ocorrência foi registrado.
O babalorixá apresentou duas linhas de investigação para a motivação do crime. A primeira é a intolerância religiosa. A segunda aponta para uma pessoa que teria sido expulsa da casa em julho por má conduta. "Depois que a gente colocou ela pra fora, começou a rebater a casa de axé. E essa pessoa também tem uma casa de candomblé", afirmou Max.
As câmeras registraram a chegada de um rapaz que jogou gasolina no local. "Ele jogou, o litro está até lá em casa, que a gente pegou", disse o sacerdote, referindo-se ao recipiente deixado para trás.
Destruição e um sentimento de impotência
As imagens do local mostram a extensão dos danos: as paredes, o teto e parte do portão foram atingidos pelas chamas. Cadeiras e objetos religiosos ficaram destruídos. Ainda não há um cálculo total dos prejuízos materiais, que representam anos de trabalho e dedicação.
Max desabafou sobre o sentimento que ficou após o ataque. "Para mim, como sacerdote que luto todos os dias contra a intolerância, o sentimento é de impotência. É a única coisa que eu me refiro agora: impotência. De você não poder fazer nada e não poder dar um ensinamento para as pessoas do que que é o respeito, que ninguém aceita".
A casa, que está aberta desde 2017 e atua no endereço atual há cinco anos, nunca havia sofrido episódios de intolerância antes. Max afirmou ter uma boa relação com todos os vizinhos do setor, inclusive com aqueles que não fazem parte da religião.