Histórico! Biblioteca do TJ-SP recebe primeira obra sobre Candomblé em marco para cultura afro-brasileira
TJ-SP recebe 1ª obra sobre Candomblé em biblioteca

Parece que as coisas finalmente estão mudando — e pra melhor. Numa dessas reviravoltas que a gente nem espera mais, o Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de dar um passo que, convenhamos, era mais do que necessário.

Imagine só: após 76 anos de existência, a biblioteca do TJ-SP recebeu pela primeira vez na história uma obra inteiramente dedicada ao Candomblé. Não é pouco, não. O livro "Machado de Candomblé: A Ancestralidade Afro-Brasileira na Sala de Aula" chegou às estantes na última quarta-feira, e olha, a simbologia disso é tremenda.

Mais do que um livro, um reconhecimento

O autor, Márcio de Jagun, não esconde a emoção. "É como se finalmente abrissem as portas", reflete ele, com aquela voz que mistura orgulho e alívio. A obra, que já percorreu escolas públicas pelo Brasil afora, agora ocupa um espaço onde, convenhamos, a cultura afro-brasileira sempre esteve meio que... invisível.

E não pense que é só colocar o livro na prateleira e pronto. A coisa foi feita com certa pompa — no bom sentido. Teve até cerimônia de entrega, com direito à presença do desembargador Luis Francisco Aguilar Cortez. O magistrado, diga-se de passagem, pareceu genuinamente comovido com o momento.

O que tem dentro dessa obra que é tão especial?

O livro é, basicamente, um mergulho profundo nos saberes ancestrais. Não é nenhum tratado complexo — na verdade, sua beleza está justamente na forma como torna acessível:

  • Explicações sobre os Orixás que até quem nunca pisou num terreiro consegue entender
  • A relação íntima entre natureza e espiritualidade
  • Como essa sabedoria toda pode — e deve — chegar às salas de aula

É quase como se o autor tivesse desembrulhado um tesouro que estava ali o tempo todo, esperando para ser compartilhado.

Por que isso importa tanto?

Ora, num país onde a intolerância religiosa ainda dá as caras com frequência desconcertante, ver uma instituição como o Tribunal de Justiça abraçar publicamente essa herança cultural... bem, é significativo. E olha que não é exagero dizer que chega a ser curioso como demorou tanto.

Pensa comigo: quantas gerações passaram por aquela biblioteca sem encontrar sequer uma referência às religiões de matriz africana? Pois é.

Agora, a esperança — e tomara que não seja só esperança — é que esse seja o primeiro de muitos. Que outras vozes, outros saberes, outras histórias possam encontrar seu lugar nessas estantes que, afinal, deveriam representar todos nós.

Como bem lembrou o autor, não se trata de impor crenças, mas de educar. De mostrar que por trás daqueles rituais que muitos ainda olham com estranheza, existe filosofia, existe ciência, existe uma visão de mundo profundamente sofisticada.

E sabe o que é mais bonito? Que o livro já nasceu com um propósito social claro: parte da renda das vendas vai direto para projetos que mantêm viva a chama da cultura afro-brasileira. É legítimo, é autêntico, é daqueles gestos que restauram um pouquinho a fé na humanidade.

Quem diria, hein? Num lugar tão formal quanto um tribunal, eis que surge espaço para celebrar a beleza dos terreiros. O mundo dá voltas — e algumas, felizmente, são para frente.