O Spotify Wrapped, retrospectiva musical anual da plataforma, sempre gera burburinho nas redes sociais. Em 2025, no entanto, uma nova funcionalidade chamada 'idade do gosto musical' foi além do entretenimento e despertou um debate importante sobre preconceito etário. A ferramenta calcula a média do ano de lançamento das músicas mais ouvidas pelo usuário e compara com outros da mesma faixa etária, atribuindo uma 'idade' ao seu gosto.
Como funciona a 'idade musical' e os casos surpreendentes
A ideia, em tese lúdica, trouxe resultados inesperados para muitos assinantes. Jovens de 21 anos se viram com um gosto musical equivalente ao de uma pessoa de 75 anos, enquanto adultos na casa dos 45 reviveram os 25, segundo os cálculos do aplicativo. O fenômeno também atingiu pais que usam a conta para entreter os filhos.
Um dos casos mais comentados foi o do apresentador Pedro Bial, de 67 anos. Seu Top 5 no Spotify foi dominado pela trilha sonora do filme K-pop Demon Hunters, fazendo com que sua 'idade musical' despencasse para os 61 anos. "Saiu meu Spotify Wrapped e ele não era só meu", brincou Bial em suas redes sociais, referindo-se ao uso compartilhado com a família.
Sucesso de marketing e a sombra do etarismo
Há uma década, o Spotify Wrapped se consolidou como uma das campanhas de marketing mais bem-sucedidas do setor. A concorrente Apple Music tentou emular a fórmula, e até empresas de outros ramos, como iFood e Uber, criaram suas próprias versões. Em 2025, o Spotify inovou com a 'idade musical' e outros recursos, como a exibição dos álbuns mais ouvidos.
Contudo, a nova feature levanta uma questão delicada: até que ponto rotular o gosto musical com uma idade é saudável em uma sociedade etarista? A ferramenta, de forma involuntária, pode reforçar estereótipos e preconceitos contra os mais velhos, sugerindo que gostar de música 'jovem' é uma anomalia ou que ter um gosto 'envelhecido' é algo negativo.
Um reflexo necessário para a indústria e os usuários
O caso de Pedro Bial, que teve sua 'idade musical' indicada como de uma criança de 10 anos devido às músicas tocadas para seus filhos, exemplifica como o dado pode ser distorcido e não refletir a personalidade do usuário. A discussão vai além da brincadeira e aponta para a responsabilidade das grandes plataformas digitais.
A pergunta que fica é se ferramentas como essa, ao tentar engajar e personalizar a experiência, acabam por categorizar e julgar os ouvintes de forma reducionista. Em um mundo com crescente conscientização sobre ageísmo (etarismo), a retrospectiva de 2025 do Spotify serve como um alerta para que a inovação tecnológica caminhe junto com a sensibilidade social, evitando perpetuar vieses prejudiciais.