
Numa daquelas conversas que misturam confissão e descoberta, Preta Gil soltou o verbo sobre algo que pouca gente sabia: um certo frio na barriga ao escutar 'Drão', clássico do pai, Gilberto Gil. Não era medo, não. Era algo mais sutil — uma espécie de estranhamento que a pegou desprevenida.
"Cresci ouvindo meu pai cantar de tudo, mas essa música...", ela diz, fazendo uma pausa dramática, "mexia comigo de um jeito diferente". Aos 45 anos, a artista revela que só recentemente conseguiu nomear o que sentia: uma mistura de admiração e certa distância emocional.
O peso das heranças musicais
Quem pensa que filho de gênio nasce sabendo lidar com legado artístico, se engana feio. Preta conta que, quando adolescente, evitava tocar justamente 'Drão' nos shows caseiros. "Tinha um não-sei-quê que me fazia pular pra próxima faixa", ri, confessando a esquisitice.
E não era por falta de qualidade — longe disso. A música, composta em 1984, é considerada uma das obras-primas do pai. Mas arte tem dessas coisas: às vezes a gente tropeça justo no que deveria ser mais fácil.
O despertar tardio
Foi só em 2019, durante os preparativos para um tributo, que o gelo quebrou. Ao revisitar a letra com olhos de adulta, Preta teve um clique. "Percebi que aquela música falava de coisas que eu mesma estava vivendo", explica. A letra, que trata de desapego e transformação, ressoou diferente depois dos 40.
Hoje, ela até arrisca algumas versões ao vivo — ainda que com um sorriso meio sem graça. "Meu pai acha graça dessa minha história toda", diverte-se. "Diz que arte é assim mesmo: chega quando a gente menos espera."
E você? Tem alguma música que te pegou de jeito só depois de muito tempo? A vida tem dessas reviravoltas sonoras...