A cantora Paula Fernandes, uma das principais vozes femininas do sertanejo brasileiro, está vivendo um momento de renovação em sua carreira. A artista acaba de lançar seu oitavo álbum de estúdio, "Simplesmente Eu", e retoma os shows com uma nova energia após um período de desaceleração durante a pandemia de Covid.
O novo álbum e a versão de Adele
O trabalho traz como música de trabalho "Amar de Novo", versão em português de "Set Fire to the Rain", sucesso mundial da cantora britânica Adele. Paula revela que o processo para gravar a versão foi minucioso: primeiro veio a parte burocrática de conseguir a permissão dos representantes de Adele, e depois a própria cantora pediu para ouvir uma demo com voz e violão.
"Mandei e ela aprovou na íntegra, sem mexer uma vírgula na letra", conta Paula com orgulho. "Preciso dizer que isso é motivo de muito orgulho, porque nasceu de mim. É uma responsabilidade muito grande versionar o hit mundial de uma artista como ela."
A letra em português não é uma tradução literal, mas uma criação livre da própria Paula Fernandes. "É uma música sobre uma mulher que foi traída, perdoou uma vez e enfatizou que não perdoaria novamente", explica a cantora.
Trajetória pioneira no sertanejo
Com 33 anos de carreira e 41 de idade, a mineira de Sete Lagoas se considera uma "jovem veterana" - alguém que ainda tem estrada para percorrer, mas com um nome já consolidado na música brasileira. Quando estourou no Brasil em 2010 com o álbum "Pássaro de Fogo", Paula tinha poucas colegas mulheres no sertanejo, um gênero então dominado por duplas masculinas.
"Tive que ter a força de dois homens", revela a artista. "Superei machismo, superei falas do tipo: 'Mulher no sertanejo não dá certo, música lenta não dá certo'. E tem uma coisa que eu talvez nunca tenha falado em entrevistas: existia preconceito pelo fato de eu ter namorado e acharem que o namorado ia me impedir de trabalhar."
Hoje, ao ver o sertanejo feminino em alta, Paula se sente orgulhosa de ter contribuído para pavimentar essa estrada. "Não fui a primeira, mas naquele momento de 2009, 2010, eu estava acontecendo. Espero que venham muito mais, que a gente passe pelas cidades e veja os outdoors de shows com artistas mulheres, não só homens."
Maturidade e novos projetos
O novo álbum "Simplesmente Eu" representa um resgate para a artista após o período de desaceleração da pandemia. "Na pandemia, tive um momento de desacelerar que foi muito importante. Trabalho desde pequena e precisava disso", conta.
Paula também se prepara para estrear como atriz na novela das 19h, "Coração Acelerado", onde vive Cecília, uma avó que inspira a neta a seguir seus sonhos na música. "Estou apaixonada! A Cecília é, de certa forma, inspirada em mim. É uma avó que pavimenta a estrada para a neta", diz.
Questionada sobre que conselho daria para uma artista que está começando, Paula é enfática: "Siga o caminho mais longo. Porque a chance de percorrer o caminho mais curto eu tive inúmeras vezes. Principalmente por ser mulher".
A cantora revela que enfrentou propostas inadequadas durante sua carreira: "Já levei muita cantadinha, já ouvi: 'Se você fizer isso, vai conseguir aquilo'. Não passei pelo teste do sofá porque eu levantaria dele".
Após alcançar o que chama de "céu" em sua carreira, Paula descobriu que a estabilidade é a melhor coisa do mundo. "Alcançar é difícil, mas permanecer é mais difícil ainda. Eu quero a velocidade de cruzeiro. Quero ter vida pessoal, vida social, família, curtir os momentos com meu cachorro e com minha mãe e estar no palco com meus fãs."
E finaliza: "O verdadeiro sucesso é o que estou vivendo hoje. Aquele sucesso de 220 apresentações por ano me adoeceu de certa forma. Foi maravilhoso, incrível, viveria tudo de novo, mas não tinha mais espaço para mim mesma".
