Nos animados bailes da noite de Santarém, no oeste do Pará, durante a década de 1970, uma mulher se destacava pela sua extraordinária habilidade em criar vestidos que encantavam a sociedade local. Mirian Fonna tornou-se sinônimo de elegância e sofisticação, vestindo as mulheres mais importantes da cidade com suas criações exclusivas.
O início de uma paixão pela moda
Nascida em Manaus, no Amazonas, em 1927, Mirian chegou a Santarém ainda jovem, acompanhada de sua madrasta. Desde cedo, demonstrou um talento natural para a costura, começando suas experiências fashion com as próprias bonecas. A família ouvia da pequena Mirian que, quando crescesse, faria lindos vestidos - um desejo que se tornaria realidade de maneira brilhante.
Com o tempo, a paixão pela moda só aumentou, e Mirian dedicou-se intensamente ao aprimoramento de suas técnicas. Não demorou para que se tornasse uma das mais respeitadas costureiras de Santarém, reconhecida pela qualidade impecável de seu trabalho.
O auge da carreira e o reconhecimento
Segundo relatos de sua neta, Mirian Pedroso, a avó era constantemente procurada por clientes encantadas com a riqueza de detalhes de suas criações. Nos bailes requintados da década de 70, os vestidos assinados por Mirian Fonna tornaram-se verdadeiras sensações, com a sociedade santarena admirando em murmúrios os looks elaborados com costuras e bordados manuais.
Além dos vestidos para bailes, Mirian especializou-se em criações para ocasiões especiais, confeccionando vestidos de noiva e de debutantes que eram considerados o ponto alto das festas. Sua neta destaca que a costureira possuía uma capacidade impressionante de transformar até mesmo tecidos simples, como sacos de açúcar, em peças elegantes que deixavam todos surpresos.
Talento além da costura
Mirian Fonna não se limitava ao universo da moda. De acordo com sua neta, ela também desenvolveu notáveis habilidades musicais, especialmente no piano. Sua sensibilidade para as artes era impressionante, a ponto de começar a lecionar aulas de piano em sua própria casa.
Betânia Conrado, uma das alunas de piano de Mirian que ainda vive para contar a história, testemunha o talento multifacetado da costureira. "Foi uma convivência muito boa e duradoura. Começou com minha mãe que fazia as roupas com ela, depois nossos vestidos de debutantes meu e das minhas irmãs. Depois nós casamos e ela fez nossos vestidos de noiva", recorda Betânia.
A ex-aluna descreve Mirian como "bonita, educada, elegante. Todos na cidade prestigiavam Dona Mirian como uma grande costureira e estilista, da melhor qualidade".
Vida pessoal e legado
No auge de sua carreira, Mirian conheceu Wilson Fonna, primeiro colunista social de Santarém, com quem se casou e formou família. O casal teve cinco filhos: Mirian Lígia (falecida), Paula, Maura, Wilson (que reside em São Paulo) e Rosangela (que mora em São Luís-MA).
Além de sua bem-sucedida carreira profissional, Mirian era descrita como uma mãe e esposa dedicada, uma mulher simples mas naturalmente elegante, com um olhar brilhante para o mundo da moda.
O fim de uma era
O intenso trabalho, que incluía noites inteiras curvada sobre máquinas de costura, cobrou seu preço na saúde de Mirian. Ela desenvolveu problemas sérios de coluna que a levaram a realizar várias cirurgias em grandes centros médicos. Posteriormente, veio o diagnóstico de Mal de Parkinson, uma doença que forçou sua "tesoura mágica" a se aposentar definitivamente.
O dom da costura foi herdado por sua filha Paula Fonna, que chegou a confeccionar belos vestidos de noiva e de 15 anos. No entanto, a perda da filha primogênita tirou sua vontade de continuar trabalhando na área. Atualmente, Paula vive aposentada, desfrutando de uma vida discreta cercada pelo carinho dos netos.
O legado de Mirian Fonna permanece vivo na memória de Santarém como um exemplo de talento, dedicação e elegância que marcou época na história da moda paraense.