Designer da IWC revela: compra de relógio mecânico é emocional, não racional
Designer da IWC: relógio mecânico é compra emocional

No universo da alta relojoaria, as motivações por trás de cada aquisição são tão complexas quanto os mecanismos que movem esses dispositivos. Christian Knoop, designer-chefe da renomada marca suíça IWC Schaffhausen, esteve recentemente no Brasil e compartilhou insights valiosos sobre o fascínio que os relógios mecânicos exercem sobre colecionadores e entusiastas.

A essência emocional da relojoaria mecânica

Em entrevista exclusiva, Knoop foi categórico ao afirmar que ninguém precisa de um relógio mecânico na era digital. "As pessoas podem ver as horas de graça em seus smartphones ou comprar um relógio de quartzo barato", observou o designer alemão. "Quando alguém decide investir em um relógio mecânico, essa decisão é provocada por um fascínio emocional - pela história de uma marca, pelo aspecto artesanal ou simplesmente pela beleza do objeto."

Knoop, que está há 17 anos na IWC Schaffhausen - marca fundada em 1890 e hoje parte do conglomerado de luxo Richemont -, destacou que esses dispositivos frequentemente adquirem valor sentimental. "Podem representar o primeiro salário em um novo emprego ou ser um presente especial de um ente querido", explicou.

Do design industrial à relojoaria de luxo

A trajetória de Knoop na relojoaria começou de forma inusitada. Com formação em design industrial, ele havia criado móveis, luminárias, eletrônicos e até interiores de aeronaves antes de ingressar na IWC. "No início, imaginei que projetar relógios não seria tão diferente de outros produtos técnicos", confessou.

Porém, ele rapidamente percebeu a singularidade desses objetos. "A grande diferença está no aspecto emocional que as pessoas associam aos relógios", afirmou Knoop. "É uma compra muito mais emocional do que racional."

Equilibrando tradição e inovação

O processo de desenvolvimento na IWC é notavelmente extenso, focando na criação de peças que possam durar gerações. "Trabalhamos com equipes multidisciplinares - engenheiros especializados em movimento, profissionais de laboratório de testes, produção e vendas", detalhou Knoop. "Esse diálogo constante, por vezes animado, libera a criatividade."

A marca é conhecida por seus relógios robustos de tamanho maior, popularizados entre militares e entusiastas da aviação. No entanto, Knoop revelou que a empresa está desenvolvendo modelos menores em resposta às demandas dos consumidores, mantendo os princípios que definem a identidade da marca: robustez, praticidade e uma abordagem técnica associada ao design.

Questionado sobre como antecipar reações emocionais através do design, Knoop foi pragmático: "Todos falam em produtos icônicos e atemporais, mas não podemos começar cada dia dizendo 'vou criar um produto icônico'. Isso o tempo dirá. Nosso foco está na atenção aos detalhes - as pessoas percebem quando um produto é bem feito."

O fascínio pela eternidade no pulso

Knoop compartilhou uma reflexão profunda sobre o apelo filosófico dos relógios mecânicos, especialmente aqueles com complicações complexas como o calendário perpétulo. "É um milagre absoluto que pequenas engrenagens em uma caixa minúscula possam mostrar o dia da semana e a data para qualquer dia do ano, programadas até para o ano 4000", maravilhou-se.

"Muitas pessoas compram esses relógios para ter um pequeno mistério no pulso", continuou. "É um gostinho da eternidade - uma expressão para algo que podemos não compreender totalmente como seres humanos, mas que ainda provoca fascínio."

Em um mercado cada vez mais competitivo, Knoop acredita que o segredo para se destacar está na autenticidade. "Precisamos ter produtos reconhecíveis com identidade forte, mas também saber comunicar essa identidade através de cores, logotipo e experiência do cliente", finalizou o designer, deixando claro que, na alta relojoaria, o valor emocional supera em muito a mera funcionalidade.