A consultora de estilo e pesquisadora Déborah Simon está transformando o universo da moda e beleza com uma abordagem genuinamente afrocentrada. Criadora do projeto A Cor Preta, ela desenvolveu metodologias específicas para valorizar a multiplicidade de tons e características da pele negra, rompendo com paradigmas eurocêntricos que historicamente dominaram a área.
Um novo olhar sobre a coloração pessoal
Após anos de pesquisa dedicada, Déborah Simon revisou completamente os métodos tradicionais de análise de cores, adaptando cada técnica para realçar as belezas únicas das mulheres negras. Seu trabalho pioneiro na coloração pessoal partiu de uma perspectiva que coloca a estética negra no centro, e não como adaptação de modelos pré-existentes.
"A estética também é política", afirma a consultora com convicção. "Quando uma mulher negra descobre a potência da sua própria imagem, ela acessa lugares de pertencimento que antes lhe eram negados". Sua experiência já impactou centenas de mulheres através de processos de formação e consultoria de estilo.
O método Armário de Rainha e a moda como autocuidado
Déborah é também a criadora do método "Armário de Rainha", que defende o vestir-se como um ato de cuidado pessoal e autoconfiança genuína, e não como performance para os outros. Sua trajetória combina formação em moda, especialização em consultoria de estilo e uma pesquisa inédita focada nas estéticas negras.
O trabalho da consultora sempre manteve foco em três pilares fundamentais: inclusão, pertencimento e representatividade real. Seu approach vai além da superfície, entendendo que a moda e a beleza são ferramentas poderosas de afirmação identitária.
Os limites da inclusão atual na moda
Apesar dos avanços recentes, Déborah faz uma análise crítica sobre o atual momento da indústria da moda: "A moda deu alguns passos em direção à inclusão, mas ainda não dá para dizer que ela seja realmente inclusiva", pondera.
Ela observa que, embora hoje se vejam mais mulheres negras nas passarelas, campanhas publicitárias e até nas novelas, essa presença frequentemente ocorre de forma pontual, quase como uma cota simbólica. Para a especialista, a verdadeira inclusão exige uma transformação mais profunda.
"A inclusão verdadeira não é só 'colocar pessoas negras na cena', é transformar a lógica que define o que é beleza, sofisticação e estilo", defende Déborah. Sua visão aponta para a necessidade de reestruturação dos próprios fundamentos que regem o universo fashion.
O futuro da moda inclusiva
Para a criadora do A Cor Preta, o marco definitivo da inclusão acontecerá quando "corpos e belezas negras puderem existir sem pedir autorização". Esta afirmação poderosa sintetiza sua luta por um espaço onde a estética negra não precise se justificar ou se adaptar, mas simplesmente ser.
Déborah acredita que a moda só se tornará verdadeiramente inclusiva quando as histórias negras forem contadas de forma legítima e quando o pertencimento não depender mais de moldes eurocentrados. Sua reflexão ganha especial relevância no contexto do Dia da Consciência Negra, data que inspira profundas discussões sobre representatividade e identidade.
O trabalho de Déborah Simon representa um farol na transformação do setor, mostrando que é possível construir novas referências estéticas que celebrem, de fato, a diversidade da beleza brasileira.