O jornalista Marcelo Godoy, conhecido por suas obras investigativas sobre a ditadura militar brasileira, acaba de dar um importante passo em sua carreira literária. Na última quinta-feira, 27 de novembro de 2025, ele lançou Olhos Negros, seu primeiro romance de ficção, marcando uma transição significativa em seu trabalho como escritor.
Da investigação jornalística para a ficção
Godoy construiu sua reputação como repórter policial no jornal O Estado de S. Paulo, onde trabalha há mais de 25 anos. Sua experiência no jornalismo investigativo resultou em duas obras aclamadas pela crítica: A Casa da Vovó – Uma biografia do DOI-Codi, vencedor do Prêmio Jabuti em 2015, e Cachorros, publicado no ano passado.
O jornalista Mario Sergio Conti, apresentador do programa Diálogos, elogia o trabalho anterior do autor, considerando-o um historiador e escritor rigoroso. Segundo Conti, Godoy mergulhou "no submundo militar para contar a tétrica saga de um dirigente do PCB que virou espião da ditadura".
Olhos Negros: uma nova direção literária
Publicado pela Editora Alameda com 306 páginas e preço de R$ 94, Olhos Negros representa uma mudança criativa na carreira do autor. O livro foi lançado em São Paulo em um evento que contou com a presença de personalidades como a socióloga Maria Victoria Benevides e o jornalista José Paulo Kupfer, além de diversos colegas de profissão.
A obra se passa no município fictício de Santo Antônio de Pádua, inspirado diretamente na região italiana do Vêneto, terra de seus ancestrais. Godoy explica que os vênetos são conhecidos pelo mau humor, machismo e conservadorismo, características que influenciam profundamente a trama.
Uma família em crise durante a redemocratização
A história acompanha a família Volpin, liderada pelo patriarca Vicente, descrito pelo escritor Irineu Franco Perpétuo na apresentação do livro como uma espécie de Fiódor Karamázov com sangue vêneto. Vicente trata mulheres como predador e batiza os filhos com nomes bíblicos, conferindo-lhes alcunhas pejorativas.
O romance se desenvolve durante o período de redemocratização do Brasil, criando um paralelo entre o drama íntimo dos personagens e as transformações políticas do país. As feridas privadas da família Volpin refletem fissuras mais amplas da sociedade brasileira em transição.
Segundo Perpétuo, a narrativa mantém ritmo de thriller, com meticulosa atenção aos detalhes, combinando a tensão familiar com o contexto histórico do Brasil. A obra promete manter os leitores envolvidos desde as primeiras páginas, demonstrando que Godoy soube transportar sua habilidade investigativa para o universo da ficção.
Esta transição literária coroa uma carreira dedicada ao jornalismo e à escrita, mostrando que mesmo autores consagrados em um gênero podem se reinventar com sucesso, oferecendo novas perspectivas e enriquecendo o cenário literário brasileiro.