Vinhos brasileiros enfrentam o 'Julgamento de Paris' em busca de prestígio internacional
Vinhos do Brasil são testados por especialistas em Paris

Conquistar o paladar francês é considerado um dos passos mais importantes para um vinho ganhar credibilidade e abrir mercados internacionais. Inspirados pelo famoso "Julgamento de Paris" de 1976, que alavancou os vinhos da Califórnia, um grupo de empresários está promovendo uma nova batalha na capital francesa, desta vez com produtos do Brasil.

Uma missão inspirada na história

O chef francês Benoit Manthurin, conhecido por ter uma carta exclusiva de vinhos brasileiros em seu restaurante Esther Rooftop, em São Paulo, cruzou o Atlântico com uma missão clara. Ele organizou três eventos de degustação em Paris, entre eles um realizado na segunda-feira, 1º de dezembro de 2025, na Cave à Vin. O objetivo é surpreender jornalistas e especialistas franceses com uma seleção de vinhos nacionais.

"Estamos finalizando o ano do Brasil na França e ninguém falou do vinho brasileiro, que está com uma qualidade impressionante", afirmou Benoit à coluna AL VINO. Ele critica até mesmo um evento oficial de turismo brasileiro no país, com presença do embaixador, onde foi servido um Chablis francês em vez de um produto nacional.

O projeto e seus idealizadores

A iniciativa, batizada de "Vin du Brésil", nasceu da parceria entre Benoit Manthurin e o empresário italiano Giovanni Montoneri, que mora no Brasil há 12 anos. Giovanni viu no salto qualitativo do vinho nacional uma grande oportunidade de negócio. "Não estamos falando de grandes volumes. Quero mostrar que o vinho brasileiro tem um lado artístico, autoral", explica.

O projeto conta ainda com o jornalista e influenciador francês Xavier Vankerrebrouck, responsável por convidar profissionais de veículos como Le Figaro e do Guia Michelin para as provas. A seleção de vinhos inclui marcas de várias regiões do Brasil, como a Manus Vinhas e Vinhos (RS), a Estrada Real (MG), a Barbara Eliodora (MG), a La Grande Bellezza (RS), a Bebber (RS) e a Arte Viva (RS).

Benoit destaca a diversidade da seleção: "Temos o trabalho de leveduras indígenas da Manus, a poda invertida da Primeira Estrada e da Bárbara Eliodora, a delicadeza do terroir da Grande Bellezza, além da Bebber, que faz vinhos em uma região promissora, e o trabalho de barricas brasileiras da Arte Viva".

Estratégia de mercado e próximos passos

Um dos desafios históricos do vinho nacional, o preço, será abordado de forma estratégica no mercado francês. Os rótulos devem chegar ao consumidor final por entre 15 e 20 euros, valor considerado o ticket médio de consumo local. "Haverá mais caros, mas esse é um valor acessível", comenta Giovanni Montoneri, que acredita firmemente no sucesso da empreitada.

A aposta é tão grande que a próxima etapa do projeto já está marcada. Em abril, novas rodadas de degustação acontecerão na Itália, provavelmente em Roma ou Milão, para apresentar os vinhos brasileiros a sommeliers e jornalistas influentes do país.

Para os organizadores, a qualidade já não é mais uma barreira. O grande obstáculo hoje é a comunicação. Giovanni usa como exemplo o fenômeno do Beaujolais Nouveau, um vinho simples que ganhou o mundo através de um marketing eficaz. "O Brasil tem muito mais qualidade, mas precisa de coragem para investir em marketing. O reconhecimento virá", garante.

O projeto Vin du Brésil é um passo audacioso que, seguindo os passos do histórico Julgamento de Paris, pode não apenas elevar o status dos vinhos do Brasil, mas também transformar definitivamente a percepção global sobre a diversidade e a riqueza da produção vinícola nacional.