Saberes ancestrais: a tapioca que atravessa gerações
Neste domingo (23), o programa Nordeste Rural apresenta uma joia da culinária tradicional brasileira: a tapioca artesanal preparada no Quilombo de Porteiras, localizado em Caucaia, no Ceará. A receita, que carrega consigo séculos de história e tradição, é ensinada pela rezadeira Verônica da Silva, guardiã dos saberes ancestrais de sua comunidade.
O preparo que honra as origens
Diferente das versões urbanas que popularizaram a tapioca, a receita quilombola mantém características únicas que a tornam especial. O processo começa com 10 xícaras de goma fresca, que deve ser amassada manualmente até atingir a textura ideal. Segundo a mestra Verônica, é fundamental não utilizar peneira durante o preparo, pois isso garante que a massa mantenha um aspecto mais grosso e autêntico.
O coco ralado é incorporado gradualmente à goma, seguido por duas colheres de sal que realçam o sabor. Mas o verdadeiro segredo está na forma de cozimento: as folhas de bananeira colocadas sobre pedra quente no fogão à lenha.
Da lenha à mesa: o ritual do cozimento
O método tradicional exige paciência e precisão. Após aquecer as folhas de bananeira por aproximadamente cinco minutos na pedra quente, a massa é cuidadosamente espalhada sobre elas. Em seguida, a própria folha é usada para cobrir a tapioca, criando uma espécie de pacote natural que concentra os sabores.
O tempo de cozimento gira em torno de quatro minutos de cada lado, com viradas necessárias para garantir o ponto perfeito. No total, o processo leva cerca de dez minutos até que a iguaria esteja pronta para ser servida, exalando aromas que remetem às raízes da cultura nordestina.
Para quem não dispõe de fogão à lenha ou folhas de bananeira, a receita pode ser adaptada para preparo em frigideira com fogo baixo. No entanto, os quilombolas garantem que a versão tradicional possui sabor e textura incomparáveis.
Esta receita representa mais do que uma simples refeição - é um testemunho vivo da resistência cultural e da preservação de tradições alimentares que continuam a alimentar não apenas corpos, mas também identidades.