Daniel Sahagoff revela segredos de 30 anos de sucesso e desafios em Portugal
Chef Daniel Sahagoff fala sobre expansão e gastronomia brasileira

O cenário gastronômico brasileiro no exterior vive um momento de dualidades, segundo a visão do experiente empresário Daniel Sahagoff. Proprietário de casas consagradas em São Paulo, como o Cantaloup e o Loup, ele está prestes a expandir seus negócios para Portugal, um movimento que revela tanto oportunidades quanto obstáculos significativos.

Os pilares de três décadas de relevância no Itaim

Com quase 30 anos de atividade, o Cantaloup se firmou como um endereço de prestígio no coração do bairro Itaim, em São Paulo. Idealizado por Daniel Sahagoff, o restaurante foi pioneiro em inovar não apenas no cardápio, mas também no serviço e no ambiente, estabelecendo um novo padrão para a alta gastronomia paulistana.

Questionado sobre o segredo para manter uma casa relevante por tanto tempo, Sahagoff lista uma série de atitudes fundamentais. A presença do proprietário é crucial, pois transmite atenção tanto para clientes quanto para a equipe. Outros pontos incluem a experimentação e correção constante dos pratos, o acompanhamento rigoroso de custos para evitar desperdícios e a verificação frequente dos preços e da qualidade das compras.

"É preciso fazer ações periódicas para ser lembrado, assegurar uma boa relação custo-benefício, checar a concorrência e estar sempre em movimento, com atualizações", resume o empresário, destacando a revisão constante de conceitos como chave para a longevidade.

Desafios além da cozinha: do hospital ao Atlântico

O grupo de Sahagoff, que também comanda o Loup – incluído no Guia Michelin 2024/25 –, já enfrenta um ambiente operacional incomum: uma unidade dentro do hospital Albert Einstein, inaugurada em setembro de 2024. O empresário revela que os desafios são específicos.

A operação é avaliada mensalmente por auditoria do hospital, exigindo uma taxa de aprovação de 95%, onde nada pode sair errado. A sensibilidade no atendimento também é redobrada, já que muitos clientes estão passando por momentos difíceis e estressantes. Tudo isso, claro, adaptado ao rigoroso regulamento interno da instituição médica.

O próximo grande passo, porém, é cruzar o Oceano Atlântico. A abertura de uma unidade em Portugal está nos planos. O que atrai Sahagoff no mercado português? Os números são um forte atrativo: Portugal recebeu 32 milhões de turistas no ano anterior, com expectativa de crescimento. A experiência gastronômica é parte essencial desse turismo.

O empresário também cita a segurança do país, que permite que as pessoas circulem a pé até mais tarde, e o fluxo de brasileiros que se mudaram para Lisboa e Cascais, muitos já familiarizados com a marca. Uma surpresa positiva tem sido a receptividade dos portugueses ainda na fase pré-abertura, oferecendo conselhos e ajudando na divulgação.

O momento da gastronomia brasileira no exterior

Sobre a presença da culinária do Brasil no exterior, Daniel Sahagoff faz uma análise realista. Ele acredita que vive um bom momento no que diz respeito ao reconhecimento de chefs expoentes, sua participação em guias internacionais, festivais e programas de intercâmbio.

Porém, na perspectiva dos negócios, a realidade é mais dura. O empresário aponta dificuldades com aprovações e licenças, atrasos em obras, a necessidade de pesados investimentos em moeda estrangeira e a escassez de mão de obra qualificada como os principais entraves para quem quer empreender fora do país.

A trajetória de Daniel Sahagoff, portanto, ilustra um caminho de consolidação meticulosa no mercado doméstico, seguida por uma expansão internacional calculada, que encara com otimismo, mas sem ilusões sobre os desafios práticos que a gastronomia brasileira enfrenta no cenário global.