
Pense num nome que ecoa pelos corredores da história cultural brasileira. Pois é, o Festival Literário Internacional de Paracatu, o badalado FLIParacatu, acaba de cravar uma escolha de mestre para a sua próxima edição. A organização do evento, que já virou tradição na região, anunciou com estardalhaço que o patrono de 2025 será ninguém menos que Rodrigo Melo Franco de Andrade. Sim, o próprio fundador do IPHAN!
E olha, a coisa não é pouco. A data do festival já está marcada na agenda de qualquer amante de literatura: de 20 a 24 de agosto do ano que vem. A curadoria, sempre afiada, promete mergulhar fundo na vida e na obra colossal desse mineiro de Belo Horizonte – uma figura que, convenhamos, mudou para sempre a forma como o Brasil enxerga e protege a sua própria memória.
Um Legado que é Pura Raiz
Franco de Andrade não foi só um burocrata qualquer. Longe disso. O homem era uma força da natureza, um visionário obstinado que botou na cabeça que nosso patrimônio cultural merecia – e precisava – de proteção. Foi na base da teimosia e do talento que ele ergueu o IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1937. E não parou por aí.
Durante nada menos que três décadas no comando da instituição, ele travou batalhas homéricas. Lutou contra a poeira do tempo, contra a especulação imobiliária e, principalmente, contra a desmemória. Foi ele quem garantiu que Ouro Preto, Olinda e o centro de Salvador, para citar só alguns, continuassem de pé, contando suas histórias para as gerações futuras. Um trabalho hercúleo, silencioso e, muitas vezes, ingrato.
Paracatu no Centro do Palco
E aí a gente se pergunta: o que uma cidade do noroeste mineiro tem a ver com esse gigante? Tudo! A escolha é um acerto tremendo. Paracatu, ela mesma, é um pedaço vivo da história. Seus casarões coloniais, suas igrejas seculares e suas ruas de paralelepípedo são testemunhas de um passado rico. Honrar Melo Franco aqui é como fechar um círculo perfeito – é reconhecer que a defesa desse patrimônio local é parte da mesma guerra que ele travou em âmbito nacional.
O festival, claro, vai muito além da homenagem. A programação – ainda em gestação, mas prometendo fogo de artifício – vai explorar as mil facetas do patrono. Debates sobre restauro, mesas sobre a importância da preservação, conversas sobre como a literatura pode dialogar com a arquitetura e a história. Tudo com um único objetivo: botar o público para pensar e, quem sabe, se engajar.
É aquele tipo de evento que não se contenta em só entreter. Ele cutuca, provoca, questiona. E nesse momento do Brasil, onde o novo muitas vezes ameaça apagar o velho sem piedade, discutir o legado de um cara como Melo Franco não é só importante. É urgentíssimo.
Então, fica a dica: agosto de 2025 tem endereço certo. Paracatu vai respirar literatura, história e um amor ferrenho pelas raízes que nos sustentam. Uma celebração mais do que merecida para um herói muitas vezes esquecido, mas cuja obra ainda nos protege, como um guardião invisível das pedras e das almas do Brasil.