A primeira exposição individual da fotógrafa Bárbara Vale será lançada em um cenário mais do que especial: o Festival Amazônia Queer, que acontece entre os dias 18 e 20 de dezembro. A mostra, intitulada "Casa de Várzea", oferece uma experiência imersiva e acessível ao público, com foco nas moradias e no modo de vida das populações ribeirinhas da Amazônia.
Memórias Flutuantes em Alter do Chão
A instalação principal, batizada de "Memórias Flutuantes", será montada exclusivamente na vila de Alter do Chão, em Santarém, no oeste do estado do Pará. Para Bárbara Vale, a escolha do local é carregada de significado. "Alter do Chão sempre foi um lugar de refúgio e inspiração. Fazer a minha primeira exposição junto ao Festival Amazônia Queer me traz ainda mais satisfação", revela a artista.
Ela espera que a interação do público com as obras gere identificação e orgulho. "A expectativa é que o público interaja com a exposição, olhe para essas fotos e sinta orgulho do seu modo de vida e das suas moradias", destaca Bárbara.
Um retrato profundo da habitação tradicional
O projeto é resultado de uma pesquisa visual iniciada em 2021, que recebeu apoio da Lei Aldir Blanc. A exposição reúne 16 fotografias que capturam a essência das casas de palafita na região de várzea. Mais do que simples imagens de moradias, as fotos buscam registrar a identidade, a memória e a sabedoria presentes nessas construções tradicionais.
Segundo a curadora Keké Bandeira, responsável também pela acessibilidade do projeto, a arquitetura de várzea é uma expressão cultural completa. "A cultura, a forma de viver, de se alimentar e de se locomover cabem na arquitetura de várzea", explica. Ela enfatiza que a exposição faz um resgate de técnicas ribeirinhas e conhecimentos ancestrais, fundindo passado, presente e futuro em uma narrativa visual poderosa.
Itinerância e uma foto especial
Após sua estreia em Alter do Chão, a exposição fotográfica seguirá em itinerância. A previsão é que ela seja levada para Itaituba e Belém nos meses de janeiro e fevereiro, porém sem a instalação imersiva.
Entre os registros, um tem lugar especial no coração da fotógrafa. Trata-se de uma imagem feita na região do Aritapera, durante uma viagem a trabalho onde Bárbara passou 15 dias. "Essa imagem foi a primeira que eu fiz questão de ter na exposição e tem tamanho maior que as demais. Um dia a luz certa apareceu", recorda-se com carinho da fotografia que retrata a conexão íntima entre as famílias, suas casas de palafita e o rio.
A instalação "Memórias Flutuantes" convida os visitantes a uma experiência única: habitar temporariamente esses espaços suspensos sobre a água. A proposta é que, através dessa imersão, seja possível compreender a arquitetura de várzea não como uma simples construção, mas como um ato de resistência, pertencimento e profundo respeito à natureza que a cerca.