O Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro atingiu um marco significativo em 2025: sua vigésima edição. O evento, que começou na quarta-feira, 3 de dezembro, em João Pessoa, Paraíba, consolida-se como uma das principais mostras de cinema do Nordeste e celebra duas décadas de existência com uma programação ousada e expansiva.
Uma celebração na areia: o novo Aruanda Praia
Para marcar a data simbólica, a organização, liderada pelo seu fundador e diretor, o professor doutor Lúcio Vilar, decidiu inovar. Foi criado o Aruanda Praia, uma estrutura montada nas areias de Tambaú, principal praia da orla da capital paraibana. O espaço conta com um palco e um telão profissional para projeção de filmes, seguidos por shows.
"A nossa expectativa é atingir pessoas de todas as classes sociais", afirma Lúcio Vilar. "O nosso evento é financiado com recursos públicos, então, desde a primeira edição, em 2005, todas as atividades do festival são grátis. E agora na praia, com música, mais democrático impossível".
O diretor também comentou sobre o cenário do cinema nacional, reconhecendo a recuperação do público pós-pandemia, mas alertando: "O cinema no Brasil ainda é muito caro, indiscutivelmente".
Programação gratuita e reflexões sobre o setor
A curadoria de Amilton Pinheiro garantiu uma seleção diversificada de filmes, exibidos em dois locais: no Manaíra Shopping e no Busto de Tamandaré, na orla. A entrada é franca em ambos.
Um dos momentos altos da programação será a conferência de abertura na sexta-feira, ministrada por Paulo Alcoforado, diretor da Ancine, que discutirá alternativas de desenvolvimento para o audiovisual brasileiro.
Lúcio Vilar também falou sobre os desafios e oportunidades atuais. Ele vê com otimismo o impulso que indicações ao Oscar dão ao mercado e à autoestima do setor, comparando a última conquista da estatueta a um clima de Copa do Mundo.
A importância da formação e o debate sobre novas mídias
Em uma reflexão profunda, o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) abordou temas cruciais para a produção cultural contemporânea. Sobre a convivência com as plataformas de streaming, ele defende uma postura flexível e não radical.
Outro ponto destacado foi o surgimento das produções verticais, com uma estética que foge da horizontalidade tradicional do cinema. "Não sei como isso vai ser digerido. É controverso, para começo de conversa", ponderou.
No entanto, foi sobre a formação acadêmica que Vilar foi mais enfático: "Nesse sentido, a formação acadêmica é muito importante, porque senão, corre o risco de se produzir obras sem eco, sem conteúdo, sem reflexão, sem contextualização, vazias". Ele finalizou citando Herbert Vianna: "Como diz o Herbert Vianna, isso é um paradoxo estendido na areia".
Além das discussões, o festival terá atrações musicais, como um show do cantor Sidney Magal, que acontecerá logo após a exibição de seu documentário, "Me Chama que Eu Vou". A 20ª edição do Fest Aruanda se apresenta, portanto, não apenas como uma mostra de filmes, mas como um espaço vital de celebração, acesso e reflexão crítica sobre o futuro do audiovisual no país.