
Não é todo dia que uma artista do calibre de Marina Lima decide falar sobre temas tão espinhosos. Mas quando o assunto é o irmão querido, o poeta Antônio Cícero, as palavras parecem vir com uma mistura de dor e alívio que só quem já perdeu alguém especial consegue entender.
"Foi um ato de amor", confessa a cantora, com aquela voz rouca que marcou gerações, ao comentar a decisão do irmão de optar pela morte assistida na Suíça no ano passado. E olha que não foi fácil - pra nenhum dos dois.
Um adeus planejado
Antônio Cícero, aquela mente brilhante que nos presenteou com versos que pareciam sair direto da alma, já vinha há tempos enfrentando problemas de saúde. A coisa tava feia, sabe como é? Quando a dor vira uma companhia constante e os remédios já não fazem mais efeito...
"Ele me ligou um dia e disse: 'Marina, cansei'. Foi assim, simples e direto", relembra a artista, com os olhos marejados. O poeta, sempre dono de suas próprias escolhas, decidiu que era hora de partir - e fez questão de deixar tudo acertado.
O processo na Suíça
Pra quem não sabe, a Suíça é um dos poucos países onde a morte assistida é legalizada. E não é qualquer um que consegue - tem todo um processo burocrático, exames médicos, avaliações psicológicas... Demorou meses até tudo ficar pronto.
- Primeiro, teve que provar que estava em plena posse de suas faculdades mentais
- Depois, mostrar laudos médicos comprovando a doença irreversível
- E por fim, esperar o aval da comissão ética
"No último dia, ele estava sereno. Pediu pra ouvir música, recitou uns versos... Foi lindo e terrível ao mesmo tempo", desabafa Marina.
O tabu que precisa ser discutido
Enquanto muita gente torce o nariz pra esse assunto, Marina defende que cada um deveria ter o direito de decidir sobre a própria vida - especialmente quando o sofrimento vira uma prisão sem grades. "É fácil julgar quando não é você na cama, sem conseguir levantar, dependendo dos outros pra tudo", dispara.
E olha que ela nem sempre pensou assim. Confessa que, no começo, tentou convencer o irmão a desistir. "Mas depois entendi que era o desejo dele, não meu. Amor de verdade é respeitar, mesmo quando dói".
Hoje, quase um ano depois, a saudade continua presente - mas sem arrependimentos. "Antônio foi corajoso até o fim. E eu? Fiquei orgulhosa de ter sido irmã dele".