Jards Macalé e gêmeas Kessler: as despedidas que marcaram novembro
Despedidas de Jards Macalé e gêmeas Kessler

A semana de 17 a 18 de novembro de 2025 ficou marcada por duas despedidas significativas no mundo artístico e cultural. Do Brasil à Alemanha, essas perdas emocionaram fãs e admiradores em todo o mundo.

Jards Macalé: o anjo torto da música brasileira

Jards Macalé, compositor e cantor brasileiro, faleceu no dia 17 de novembro de 2025, aos 82 anos. A causa da morte foi um enfisema pulmonar que vinha afetando sua saúde. O artista deixou um legado imensurável para a cultura nacional.

Sua carreira foi marcada pela independência artística e por uma postura que sempre esteve na contramão do establishment musical. Conhecido como "o maldito" ou "anjo torto", Macalé construiu uma imagem pública complexa, mas era descrito por amigos como uma pessoa doce, engraçada e de sorriso aberto.

O artista teve participação fundamental no movimento tropicalista, colaborando com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Em 1971, atendendo ao chamado de Caetano, viajou para Londres, onde o baiano vivia exilado. Nessa temporada, ajudou a montar uma obra-prima: o disco Transa, contribuindo com o violão dos acordes iniciais de Nine Out of Ten.

Seu álbum de estreia, lançado em 1972 e que levava seu nome, continha composições que se tornariam clássicos atemporais:

  • Movimento dos Barcos
  • Hotel das Estrelas
  • Vapor Barato (composta em parceria com Waly Salomão)

Vapor Barato se transformou em um hino geracional, inicialmente gravado por Gal Costa e posteriormente revitalizado pela trilha sonora do filme Terra Estrangeira, de Walter Salles. A letra "Oh, sim, eu estou tão cansado/ mas não pra dizer/ que eu não acredito mais em você" ecoa até hoje como um marco da música brasileira.

Um momento tocante ocorreu quando Macalé acordou de uma cirurgia cantando Meu Nome É Gal, de Roberto e Erasmo Carlos, demonstrando sua conexão profunda com a música até os últimos momentos.

Alice e Ellen Kessler: juntas até o fim

No dia seguinte, 18 de novembro, o mundo se despedia das gêmeas Alice e Ellen Kessler, que morreram juntas em uma clínica nas proximidades de Munique, na Alemanha, através de um procedimento conjunto de suicídio assistido. Elas tinham 89 anos.

Nascidas na Alemanha Oriental, as irmãs alcançaram imensa notoriedade durante os anos 1950 com suas apresentações de dança e música. Suas longas pernas, cabelos impecavelmente penteados e sorrisos sempre à mostra personificavam a estética das coristas da época.

O sucesso das gêmeas começou na França e Itália antes de conquistarem os Estados Unidos. Elas apareceram diversas vezes no The Ed Sullivan Show, foram capa da revista Life e circulavam entre as celebridades mais famosas da época, incluindo Fred Astaire, Frank Sinatra e Elvis Presley.

Em entrevista ao diário Corriere della Sera no ano anterior, elas haviam expressado o desejo de "ir embora juntas, no mesmo dia". Esse desejo foi realizado, marcando o fim de uma vida compartilhada desde o nascimento.

Legados que permanecem

Essas duas histórias de despedida representam diferentes facetas da condição humana e artística. De um lado, Jards Macalé, o artista brasileiro que desafiou convenções e deixou um legado musical inestimável. Do outro, Alice e Ellen Kessler, as gêmeas que escolheram partir juntas após uma vida de sucesso e glamour compartilhados.

Enquanto Macalé deixa como herança canções que continuarão a inspirar novas gerações, as irmãs Kessler deixam o exemplo de um vínculo que permaneceu forte até o último suspiro. Ambas as histórias nos lembram da fragilidade da vida e da importância de celebrar as contribuições artísticas que moldam nossa cultura.

As homenagens e memórias continuarão vivas através de suas obras e das lembranças daqueles que foram tocados por seus talentos únicos.