Quando a TV Globo decidiu relançar a clássica novela Vale Tudo em 2025, a expectativa era de um sucesso garantido. A promessa era modernizar uma trama icônica da teledramaturgia brasileira, originalmente exibida em 1988, trazendo relevância para os dias atuais. No entanto, o resultado final foi um projeto marcado por audiência abaixo do esperado e uma chuva de críticas, especialmente direcionadas ao roteiro e à direção.
Um projeto que não decolou
O remake, comandado pela autora Manuela Dias – responsável por revisitar a obra original de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva – enfrentou dificuldades desde o início. A trama patinou ao tentar atualizar conflitos e temas que, na versão dos anos 80, foram tratados com muito mais força e contundência. A condução irregular e os diálogos truncados deixaram claro que a adaptação não conseguiu encontrar seu equilíbrio, resultando em situações dramáticas mal resolvidas que refletiam as fragilidades do projeto.
O elenco, que contava com nomes como Alice Wegmann, Humberto Carrão, Taís Araujo, Paolla Oliveira, Carolina Dieckmann, Alexandre Nero e Cauã Reymond, muitas vezes pareceu refém desses problemas. A falta de unidade na direção fez com que muitos talentos não conseguissem brilhar como era esperado, em meio a um cenário de desgaste generalizado.
O farol no meio da tempestade: Débora Bloch
Em meio ao naufrágio coletivo, um nome emergiu praticamente ileso: Débora Bloch. Escalada para viver a poderosa e marcante Odete Roitman – papel que foi um marco na carreira de Beatriz Segall na versão original –, a atriz entregou uma performance magistral. Sua composição foi segura, técnica e consciente do peso histórico que o personagem carregava.
Diferente da interpretação mais histriônica de Segall, Bloch optou por uma Odete mais calculada, fria e com um sarcasmo elegante. Ela demonstrou um domínio absoluto de cena, utilizando pausas precisas, um olhar afiado e um controle narrativo que faziam suas cenas funcionarem perfeitamente, mesmo quando o capítulo como um todo falhava. Enquanto a novela cambaleava, suas aparições eram pontos de excelência e sofisticação.
Uma trajetória que resiste a projetos irregulares
A capacidade de Débora Bloch de se destacar em meio ao fracasso não é uma surpresa. A atriz possui uma trajetória sólida e um repertório amplo, que mais uma vez lhe permitiu preservar seu prestígio artístico. Ela entrou no projeto com a clara missão de não salvar a novela – uma tarefa impossível para uma só pessoa –, mas de honrar a dignidade do personagem e proteger sua própria imagem.
No balanço final de 2025, o remake de Vale Tudo entra para a lista de apostas da Globo que não se justificaram. O projeto não conseguiu reviver o brilho do original e deixou um saldo negativo em termos de crítica e audiência. Para Débora Bloch, no entanto, fica o registro de uma resistência artística admirável. Em um cenário de fracasso coletivo, ela foi a única estrela a sair sem arranhões relevantes, provando que o talento e a experiência podem brilhar mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis.
