Jambo: fruta que perfuma quintais e cria tapetes cor-de-rosa viraliza
Jambo: fruta que cria tapetes cor-de-rosa viraliza

Um simples quintal se transformou em cenário de filme graças à espetacular floração de um jambeiro. A cena, registrada na casa de Valquíria Sousa, rapidamente conquistou as redes sociais ao mostrar o chão e até um carro completamente cobertos por um denso tapete de flores rosas.

Mas a imagem fez muito mais do que encantar os olhos. Para milhares de brasileiros, o jambo carrega uma carga nostálgica, remetendo à infância, ao quintal da avó, ao cheiro doce no ar e ao hábito de comer a fruta direto do pé. É um símbolo de memórias afetivas, um fruto simples que habita a história de muitos lares.

Conhecendo o jambeiro e seu espetáculo rosa

Segundo a botânica Carol Ferreira, o jambo é parte da família Myrtaceae, a mesma de outras frutas muito conhecidas no Brasil, como a jabuticaba, a pitanga, o araçá e até o eucalipto. O fruto tem um formato que lembra uma pera, com tamanho entre seis e dez centímetros, e muda de cor do rosa ao vermelho-escuro durante o amadurecimento. A polpa é branca, suculenta e de sabor delicado.

"O sabor é suavemente adocicado, levemente ácido, com um aroma marcante de rosas", descreve a especialista. Esse perfume intenso ajuda a explicar por que a floração é tão impactante. No Brasil, o jambeiro floresce principalmente entre os meses de agosto e fevereiro.

Nessa época, a árvore – que pode alcançar impressionantes 20 metros de altura – se cobre totalmente de flores rosas. Após a polinização, os estames caem e formam no solo aquele famoso e belo tapete cor-de-rosa. "É um espetáculo à parte", define Carol Ferreira.

Da floração à colheita: ciclo e cuidados ambientais

Os frutos começam a se desenvolver após a floração e a colheita geralmente ocorre entre janeiro e maio. Bem adaptado ao clima tropical, o jambeiro se desenvolve melhor em regiões quentes e úmidas, como Norte e Nordeste, e também em áreas do Sudeste. A espécie prospera em locais com alta precipitação e sem longos períodos de seca, além de tolerar diferentes tipos de solo.

Embora o jambo-vermelho seja o mais popular, existem outras variedades, como o jambo-rosa e o jambo-branco, também chamado de maçã-d’água. Todos são frutos exóticos de sabor adocicado, consumidos in natura ou em receitas caseiras. O jambo-vermelho tende a ter sabor mais intenso, enquanto o branco se destaca pela polpa abundante, muitas vezes sem sementes.

No entanto, a beleza do jambeiro esconde um alerta ambiental. A botânica Carol Ferreira adverte que algumas espécies, em especial o jambo-rosa, estão na lista de plantas exóticas com alto potencial invasor em regiões tropicais. "Por se expandir com facilidade, ele não deve ser plantado próximo a áreas de Mata Atlântica ou outros ecossistemas nativos", afirma.

O problema vai além da competição por espaço. A planta pode substituir espécies nativas, reduzindo a diversidade vegetal. "Quando as plantas nativas desaparecem, os animais que dependiam delas também se afastam", explica Carol. Isso prejudica a dispersão de sementes e a regeneração natural das florestas.

Nutrição, interação com a fauna e consumo

Do ponto de vista nutricional, o jambo é uma surpresa positiva. A fruta é rica em fibras, vitaminas A e do complexo B, e minerais como cálcio, ferro e fósforo. Pesquisas indicam que a polpa e a casca possuem compostos antioxidantes, com potencial anti-inflamatório e antidiabético. A especialista ressalta, porém, que ainda são necessários mais estudos clínicos, especialmente sobre o consumo das sementes.

Em áreas urbanas, o jambeiro tem um papel ecológico. Suas flores atraem abelhas, vespas, beija-flores e outras aves, além de morcegos durante a noite. Os frutos maduros servem de alimento para diversas aves e até para macacos.

Apesar de comum em quintais, o jambo raramente é visto em grandes mercados. A razão é prática: sua vida útil pós-colheita é muito curta, de apenas três a seis dias. Por isso, ele permanece como um símbolo da comida no tempo da natureza, consumido fresco ou transformado em sucos, doces, geleias e compotas caseiras.

Quando a safra é generosa, a criatividade na cozinha floresce. Uma das receitas mais tradicionais é o mousse de jambo. O preparo é simples: bata no liquidificador cerca de 15 jambos (aproveitando bem a casca vermelha), uma lata de leite condensado, uma lata de creme de leite e 200 ml de água. Coloque a mistura em um recipiente, decore com pedaços da fruta e leve ao congelador por pelo menos duas horas antes de servir.