
O coração do futebol argentino parou nesta quarta-feira. Literalmente. Miguel Ángel Russo, aquele homem de semblante sério que comandou o Boca Juniors com mão de ferro e coração de ouro, se foi aos 69 anos. Uma parada cardiorrespiratória, dizem os médicos. Eu diria que o futebol perdeu um pedaço de sua alma.
Que ironia do destino — o mesmo coração que tanto pulsou por aquele clube de cores azul e ouro simplesmente decidiu descansar. Russo não era apenas mais um técnico qualquer. Era parte da mobília da Bombonera, daquelas que rangem com história.
Duas passagens que marcaram época
Ah, as suas duas passagens pelo Boca... A primeira entre 2007 e 2008, quando assumiu o timão de um barco que já navegava em mares turbulentos. E a segunda, mais recente, entre 2020 e 2021 — pandemia, portões fechados, estádios vazios, mas a paixão intacta.
Parece até ontem que o via ali, na beira do gramado, com aquele jeito característico de quem não pede, mas exige respeito. E conseguiu, claro que conseguiu. Como esquecer a Libertadores de 2007? Aquele time que parecia invencível, com Riquelme puxando os fios do meio-campo...
- Primeira passagem: 2007-2008 — Libertadores no bolso
- Segunda etapa: 2020-2021 — Futebol em tempos sombrios
- Total de jogos: 87 partidas no comando
- Vitórias: 44 triunfos para a história
Um legado que transcende números
Os estatísticos vão te encher de números — 44 vitórias, 24 empates, 19 derrotas. Mas Russo era mais que planilhas. Era aquele sujeito que entendia que futebol se joga com os pés, mas se vence com o coração. Lembro-me de uma entrevista onde disse, com aquela voz rouca de quem gritou muito em treinos: "No Boca, ou você ganha ou você ganha". Simples assim.
E não foi só no Boca que deixou sua marca. Passou pelo Racing, Vélez, Independiente... Cruzou o oceano e comandou o Deportivo La Coruña na Espanha. Mas algo me diz que seu coração sempre bateu mais forte em La Boca, entre as casas coloridas e o cheiro do rio.
O que fica? Fica a lembrança de um homem íntegro num esporte onde isso é raro. Fica o respeito que conquistou não com gritos, mas com trabalho. Fica a saudade que hoje aperta o peito de cada torcedor xeneize.
O futebol argentino perdeu um de seus personagens mais autênticos. O tipo de sujeito que faz falta não apenas pelos títulos, mas pelo caráter. E hoje, enquanto a Bombonera chora, lá em cima deve ter um time celestial precisando de um bom técnico.
Descanse em paz, Miguel. O apito soou pela última vez.