
O destino às vezes nos prega peças maravilhosas. Quem diria que um garoto de 12 anos, morador da Zona Norte do Rio, estaria prestes a embarcar para os Estados Unidos com a bandeira do Brasil estampada no peito? Matheus Felipe parece um adolescente comum — mas esconde uma determinação de mestre.
O jiu-jitsu entrou na vida dele quase por acaso. "Eu tinha problemas de concentração na escola", confessa o menino, com uma honestidade que derrete qualquer coração. Sua mãe, sempre atenta, buscou uma atividade que canalizasse toda aquela energia. E olha só no que deu.
Da esteira da academia ao pódio internacional
Três anos se passaram desde aquela primeira aula. Três anos de suor, quedas e levantadas. Matheus treina na Gracie Barra — aquela academia lendária que já revelou tantos campeões — e mal podia acreditar quando soube da classificação para o Pan Kids.
"A gente treina pensando nisso, mas quando acontece... é uma loucura!", diz ele, ainda meio sem acreditar. A competição acontece em novembro, na Flórida, e reúne os melhores jovens lutadores do planeta.
Uma família inteira por trás do sonho
Aqui tem uma coisa que muita gente esquece: atrás de todo atleta mirim existe uma rede de apoio que não cansa. A mãe de Matheus, Elaine Cristina, virou uma espécie de manager, psicóloga e motorista particular — tudo ao mesmo tempo.
"É cansativo, sim. Trabalho, levo pra treinar, busco, organizo a alimentação... mas ver o brilho nos olhos dele não tem preço", emociona-se. O pai, mais reservado, é o suporte silencioso — aquele que aparece com um abraço na hora certa.
E os treinos? Imagine a rotina: escola pela manhã, treino à tarde, lição de casa à noite. Fim de semana? Mais treino. Parece puxado — e é — mas Matheus garante que o esporte melhorou até suas notas. "Aprendi a ter foco", explica, com uma maturidade que impressiona.
O desafio financeiro: quando o talento precisa de ajuda
Agora vem a parte menos glamourosa. A viagem e a inscrição custam cerca de R$ 15 mil — uma fortuna para qualquer família. A solução? Vaquinha online. A família criou uma campanha nas redes sociais e tem recebido doações de desconhecidos tocados pela história.
"Cada real ajuda", diz Elaine. "É bonito ver como as pessoas se comovem." A meta é fechar o valor até o final do mês — o relógio está correndo.
O que esperar da competição?
O Pan Kids não é brincadeira. Reúne mais de 2 mil atletas mirins de 30 países — uma verdadeira Copa do Mundo da categoria. Matheus competirá na faixa laranja (sim, as cores importam no jiu-jitsu), peso pesado.
Seu professor, Marcelo Silva, não esconde o orgulho: "Ele tem algo especial — uma combinação rara de técnica e garra. Pode chegar longe."
Enquanto aguarda novembro, a rotina continua: escola, treino, lição de casa. Mas agora com um sabor diferente — o gosto doce de quem carrega nas costas não apenas uma mochila, mas os sonhos de um país inteiro.