
Quem vê a cena não acredita: um menino de nove anos, com uma sanfona quase do seu tamanho, comandando uma banda como se fosse um veterano de décadas de estrada. E o mais impressionante? Todos os músicos são seus irmãos mais novos. Parece ficção, mas é a realidade da família Silva em Cajazeiras, no sertão paraibano.
Davi Lucas — sim, esse é o nome do pequeno prodígio — não chega a 1,30m de altura, mas quando coloca as mãos no fole, parece ter a alma de um mestre sanfoneiro. "A primeira vez que vi uma sanfona, foi amor à primeira vista", conta ele, com a naturalidade de quem fala sobre brinquedo favorito. A diferença é que seu "brinquedo" pesa quase tanto quanto ele.
Uma banda de sangue
O que começou como brincadeira de irmãos virou algo sério — no bom sentido, claro. Maria Clara, de apenas 7 anos, domina o triângulo com uma precisão que dá inveja a muitos adultos. Já o caçula João Miguel, com seus 5 aninhos, mostra no zabumba que tamanho não é documento quando o assunto é ritmo.
"É natural, vem de família", explica o pai, José Carlos, com orgulho transbordando nos olhos. Ele mesmo músico, nunca impôs nada aos filhos. "Um dia o Davi chegou e disse: 'Pai, quero tocar sanfona'. Pensei que era coisa de criança, mas ele insistiu tanto que não teve jeito."
Das brincadeiras para os palcos
O quintal da casa simples no bairro Jardim Oásis se transformou em palco. Primeiro foram as reuniões de família, depois os vizinhos começaram a se aglomerar para ouvir. Agora, são eventos pela cidade inteira que querem a presença da "Banda da Família Silva", como estão sendo chamados.
Nas redes sociais? Nem se fala. Os vídeos deles fazem sucesso instantâneo. Tem gente que até chora de emoção ao ver tanta dedicação e talento em corpos tão pequenos. "Eles não decoram as músicas, eles sentem", comenta uma seguidora nos comentários.
Infância normal, mas com um plus
Agora, não pense que é só trabalho. Davi adora videogame, corre atrás de bola com os amigos e, como qualquer criança, às vezes arruma confusão com os irmãos. A diferença é que, depois das brigas, eles fazem as pazes tocando juntos.
"Quando crescer, quero ser igual ao meu avô", sonha o garoto, referindo-se a Antônio Ferreira, sanfoneiro renomado na região. "Mas por enquanto, estou feliz em tocar com meus irmãos."
Enquanto muitas crianças sonham em ser youtubers ou influencers, essa turminha está mostrando que a tradição musical paraibana está em boas mãos — mesmo que sejam mãozinhas, ainda pequenas, mas cheias de história para contar através da música.