O Allianz Park, em São Paulo, foi palco de uma noite histórica neste sábado (15) com o show de despedida do Planet Hemp. A apresentação fez parte da turnê "A Última Ponta", que marca o fim das atividades da banda underground que surgiu em 1993 no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.
Uma noite de abertura premiada
O BaianaSystem abriu a noite com energia total, mesmo recém-chegado de Las Vegas onde conquistou o Grammy Latino. O grupo soteropolitano apresentou uma mistura única da malemolência urbana de Salvador com músicas de pegada forte, incluindo "Saci", "Cabeça de Papel", "A Mosca", "CertopeloCertoh" e "Duas Cidades".
Antes mesmo da apresentação principal, Marcelo D2 e BNegão já davam uma amostra do que estava por vir, pulando no palco durante a abertura. A interação com dançarinos fantasiados em algumas músicas criou performances memoráveis para o público, que enfrentou um frio atípico para a época.
Show produzido com significado histórico
O Planet Hemp apresentou um espetáculo extremamente bem produzido, começando com uma retrospectiva nos telões laterais que mostrou episódios de repressão à cannabis, movimentos de contracultura e violência no Rio de Janeiro. A linha do tempo se transformou em um livro que se abria no telão principal, dedicado a Skunk, integrante da banda que morreu de AIDS em 1994.
Os capítulos acompanharam todo o show com letras sincronizadas e trouxeram momentos marcantes da história do grupo, incluindo a prisão dos músicos em 1997, em Brasília, durante uma apresentação onde foram acusados de apologia às drogas.
Setlist e atmosfera característica
O setlist da noite fez justiça ao estilo raprocknrollpsicodeliahardcoreragga da banda, começando com a frenética "Dig Dig Dig (Hempa)". Não faltaram clássicos como "Queimando Tudo", "Legalize Já", "Stab" e "Zerovinteum", além de músicas mais recentes como "Jardineiro" e "Distopia".
A fumaça, elemento marcante da banda, dominou a noite. No palco, o gelo seco intenso criou a atmosfera característica do Planet, enquanto na plateia, sinalizadores transformaram a roda de bate-cabeça em um verdadeiro caldeirão de névoa, que se misturava à fumaça dos baseados.
Homenagens e participações especiais
O livro-show prestou homenagens a músicos que inspiraram o grupo, incluindo Marcelo Yuka, Chico Science e Fábio Kalunga, figura conhecida na cena underground carioca. As participações especiais foram um dos pontos altos da noite, com presenças de Emicida, Pitty, Seu Jorge, João Gordo e DJ Zegon.
O momento mais emocionante veio quando Black Alien, ex-integrante do Planet, apareceu no final do show, e o grupo recantou músicas com as rimas do rapper. Com Pitty, cantaram "Admirável Chip Novo" e "Teto de Vidro", enquanto Seu Jorge, que fez parte da banda por cerca de um ano, conquistou o público com um solo de flauta doce e a música "Quem tem Seda?".
Tom de despedida e nostalgia
Apesar das várias palavras contra o fascismo e a intolerância, a apresentação teve um tom claramente de despedida, com muitos abraços e Marcelo D2 expressando diversas vezes o quanto estava emocionado. A nostalgia tomou conta do ambiente com o livro nas telas mostrando imagens da juventude do Planet Hemp.
"Mantenha o respeito" foi a canção escolhida para encerrar a noite, enquanto o público, literalmente queimando tudo, permaneceu animado até o bis final. O grand finale da turnê está marcado para o dia 13 de dezembro, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, encerrando definitivamente uma trajetória que começou em setembro passando por Salvador, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Brasília e Belo Horizonte.