Série digital resgata memórias de mestres da música acreana
Mestres da música acreana em série digital

Uma iniciativa cultural de grande importância está dando voz aos guardiões da tradição musical acreana. O projeto Memórias Musicais da Amazônia reúne em formato de série digital a trajetória de artistas fundamentais para a preservação das práticas tradicionais do Acre.

Projeto preserva legado cultural

Coordenado pelo pesquisador Alexandre Anselmo, a Mostra Cultural Digital nasce do compromisso de registrar e preservar as práticas musicais dos baques acreanos. "O objetivo é que essas manifestações possam ser acessadas nos circuitos formais de difusão, atendendo todos os públicos, especialmente às novas gerações", explicou o coordenador.

A coletânea já está disponível no canal do YouTube do Baquemirim e apresenta entrevistas e apresentações inéditas, gravadas com mestres e mestras de diferentes gerações. Cada episódio foca em um artista específico, explorando os elementos que marcam sua identidade sonora.

Os protagonistas da série

O primeiro vídeo da série apresenta Osmar do Cavaquinho, de 87 anos, um dos nomes mais conhecidos da música do Acre. Com mais de cinco décadas de carreira, ele marcou o repertório local com composições como Beijo Ardente e Muchatita, além de obras que dialogam com ritmos como cumbia, samba, choro, forró e xote.

O artista compartilhou sua emoção: "A música mora dentro da gente, não adianta fugir. A minha foto vai pra parede e depois vai embora, se estraga. O que fica para a história é minha música, através de trabalhos como este que estamos fazendo aqui".

O segundo episódio é dedicado a Zenaide Parteira, filha de seringueiros e descendente Kampa (povo Ashaninka). Guardiã de saberes tradicionais e autora de mais de 700 composições, ela ficou nacionalmente conhecida ao gravar a canção 'É No Balanço Dela' com Geraldo Azevedo. Em sua entrevista, Zenaide fala sobre o processo criativo, a relação com a ancestralidade e o impacto da música no fortalecimento das comunidades.

Diversidade de tradições musicais

A série também registra a trajetória de Nilton Bararu, músico ligado às tradições familiares do acordeão e integrante do grupo Som da Madeira. Seu episódio revisita referências como marchinhas, baião e valsas amazônicas, que compõem o repertório preservado ao longo de décadas.

Outro destaque é Mestre Zé Bolo (José Pinheiro de Freitas), do povo Nawa, cuja música carrega relatos dos seringais e das lutas territoriais, documentando através da arte a história de resistência de seu povo.

O último episódio apresenta Francisco Saraiva Soares, natural de Xapuri, que cresceu entre o cavaquinho da família e a vida nos seringais antes de retomar a carreira musical em Rio Branco nos anos 1980. emocionado, ele declarou: "Passei por muita coisa na vida, e essa oportunidade de vocês me acolherem para realizar esse trabalho é uma honra pra mim. Quando novo não tive essa oportunidade e hoje estou tendo, depois de velho estou tendo essa oportunidade".

O acervo Memórias Musicais da Amazônia representa não apenas um registro histórico, mas uma ponte entre gerações, garantindo que as raízes culturais do Acre continuem vivas e acessíveis para todos.