O mundo da música brasileira perdeu um de seus nomes mais originais nesta segunda-feira, 17 de novembro de 2025. Jards Macalé faleceu aos 82 anos na cidade do Rio de Janeiro, onde estava internado para tratamento de enfisema pulmonar.
O artista sofreu uma parada cardíaca durante a internação hospitalar. A equipe do cantor confirmou a notícia através das redes sociais, compartilhando um emocionante relato sobre seus últimos momentos.
O adeus de um ícone
Segundo o comunicado oficial, Macalé chegou a acordar de uma cirurgia cantando "Meu Nome é Gal", demonstrando toda a energia e bom humor que sempre o caracterizaram. "Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade", dizia a mensagem de despedida.
Nascido Jards Anet da Silva em 3 de março de 1943, no Rio de Janeiro, o artista cresceu no bairro da Tijuca e desde cedo circulou entre ambientes musicais diversificados. Sua formação eclética flertava com o clássico, o jazz, o samba e a MPB, criando uma base sólida para sua carreira multifacetada.
Um legado musical inclassificável
Jards Macalé se estabeleceu como uma das figuras mais singulares da música nacional. Cantor, compositor, violonista, arranjador e ator - sua versatilidade era impressionante. Nos anos 1960, trabalhou ao lado de grandes nomes como Torquato Neto, Gilberto Gil e Caetano Veloso, participando ativamente do movimento que daria origem à Tropicália.
Contudo, Macalé preferia se definir como alguém sem definição. Ele era o "anti-tudo", transitando por diversos círculos sem se prender a nenhum rótulo específico. Essa característica o tornou um gênio inclassificável da música brasileira.
Entre suas contribuições mais significativas está a direção musical do espetáculo Gal a Todo Vapor e colaborações com artistas como Maria Bethânia, Gal Costa e Nara Leão. Sua independência artística extrema lhe rendeu os apelidos de "maldito" e "anjo torto" da MPB - títulos que ele carregou com orgulho.
Obras que marcaram gerações
Macalé compôs clássicos que foram eternizados na voz de outros artistas. "Vapor Barato", gravada originalmente por Gal Costa e posteriormente redescoberta por O Rappa, tornou-se um hino atemporal. "Movimento dos Barcos", também interpretada por Gal Costa, é outra joia de seu repertório.
Em 1972, lançou o disco "Jards Macalé", uma obra-prima que combinava lirismo, ritmos brasileiros e seu violão sempre sofisticado. O álbum permanece como testemunho de seu talento irreverente e melancólico.
Sua influência também se estendeu ao cinema nacional, onde assinou trilhas sonoras para filmes importantes como:
- Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade
- O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) de Glauber Rocha
- A Rainha Diaba (1974) de Antonio Carlos Fontoura
Jards Macalé deixa um legado musical rico e diversificado, marcado pela liberdade criativa e pela recusa em se encaixar em qualquer categoria pré-estabelecida. Sua morte encerra um capítulo importante da cultura brasileira, mas sua música continuará a inspirar novas gerações.