O pianista brasileiro Moisés Mattos, natural de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais, é o protagonista de um novo documentário que mergulha em sua vida e carreira. Intitulado '3 Atos de Moisés', o longa-metragem dirigido por Eduardo Boccaletti teve sua estreia nos cinemas na última quinta-feira, dia 4.
Da infância em Minas aos palcos da Europa
Aos 36 anos, Moisés Mattos carrega uma história marcada por superação. Criado em uma família humilde, ele encontrou na música, presente desde cedo através da mãe e da Congregação Cristã no Brasil, um refúgio e uma identidade. As dificuldades financeiras eram uma barreira constante, a ponto de ele precisar caminhar longas distâncias para chegar às aulas de piano, sem condições de pagar a passagem de ônibus.
Além dos desafios econômicos, o artista enfrentou preconceito racial e bullying durante a infância e adolescência. A música surgiu como um bálsamo nesse contexto. Sua paixão específica pelo piano foi despertada de maneira quase cinematográfica aos oito anos, ao assistir na TV uma apresentação do lendário Vladimir Horowitz e se emocionar com a reação do público.
A descoberta do alemão e a mudança de continente
Outro fascínio surgiu na adolescência: a língua alemã. Motivado pela curiosidade ao ouvir um casal de vizinhos conversando, Moisés começou a estudar o idioma sozinho, com a ajuda de um método indicado por seu primeiro professor de piano, André Pires. Esse interesse se entrelaçou com seu amor pela música erudita de compositores alemães e austríacos, pavimentando o caminho para uma mudança radical.
Há mais de 15 anos vivendo na Alemanha, a adaptação não foi fácil. O pianista relata um choque cultural inicial, incluindo uma experiência negativa ao tentar um contato musical espontâneo nas ruas. A concorrência para ingressar nas universidades de música também foi intensa, mas ele perseverou e foi aprovado na Universidade de Bremen, onde concluiu sua formação.
Carreira consolidada e um retorno emocionante
Formado, Moisés Mattos construiu uma carreira respeitada como solista, se apresentando em salas de concerto prestigiadas por diversos países europeus. Com um repertório voltado para o romantismo, ele cita como inspirações compositores como Brahms, Schubert, Beethoven, Rachmaninoff e, especialmente, Chopin.
Atualmente, além das apresentações, ele dedica parte do seu tempo às aulas. O documentário '3 Atos de Moisés' estrutura sua trajetória em três momentos-chave: a infância e os primeiros passos na música em Juiz de Fora; a formação e o início da carreira na Alemanha; e o emocionante retorno para uma apresentação no histórico Cine-Theatro Central, em sua cidade natal.
Para o pianista, revisitar o passado durante as filmagens foi um processo terapêutico. "Uma das perguntas talvez mais fortes, que realmente me emocionou no filme, foi, inclusive, no final das gravações: se eu pudesse encontrar o Moisés pequeno, uma criança, que conselho eu daria a ele?", reflete. O filme está em cartaz no Cinemais Jardim Norte, em Juiz de Fora, celebrando a trajetória de um artista que transformou obstáculos em coragem através da força da música.