Existe um ritual natalino que, para muitos amantes da música, se perdeu no tempo. Antes da era digital, quando o streaming ainda era um conceito distante, os presentes musicais tinham um charme e uma surpresa peculiares. Eles chegavam envoltos em papéis coloridos, mas seus formatos inconfundíveis – quadrados e planos – já denunciavam o conteúdo mesmo antes do desembrulho.
A era de ouro dos presentes físicos
Durante décadas, especialmente até o final dos anos 1980, os discos de vinil eram os reis das trocas de presentes. A ansiedade não era sobre o que estava dentro do pacote, mas sobre qual artista ou banda ele escondia. A tradição continuou, ainda que com um impacto diferente, com a ascensão dos CDs, que dominaram o mercado fonográfico nas décadas seguintes.
Porém, a partir da metade dos anos 2010, o cenário mudou radicalmente. A chegada agressiva dos iPods e, principalmente, dos serviços de streaming como Spotify e YouTube, transformou por completo a forma como consumimos música. A magia tátil e visual dos álbuns, com suas capas artísticas e encartes, foi substituída por arquivos digitais e playlists. Para muitos puristas, essa conveniência veio acompanhada de uma qualidade de som inferior e da perda de um ritual cultural importante.
O retorno inesperado do físico
Em uma reviravolta surpreendente do mercado, os últimos anos testemunharam um fenônio nostálgico. Os discos de vinil, embora sem a força avassaladora do passado, reconquistaram uma fatia significativa de consumidores, ávidos por experiência mais tangível. Mais inesperado ainda foi o retorno dos CDs, que voltaram a ser vistos pelas gravadoras como uma opção viável para artistas e fãs.
Aproveitando o espírito natalino, a coluna faz um pedido especial ao Papai Noel, sugerindo uma lista de discos que seriam presentes perfeitos para qualquer colecionador ou amante da boa música.
Pedidos especiais para a árvore de Natal
KISS – Álbuns Solos (1978): Em um movimento para acalmar os egos inflados dos integrantes, a banda lançou quatro álbuns individuais. Dessa leva, o trabalho do guitarrista Ace Frehley, falecido em outubro de 2025, se destaca como o preferido do colunista.
Nick Drake – Fruit Tree (2007): Esta caixa especial reúne os três únicos álbuns da curta e brilhante carreira do cantor e violonista de folk, falecido em 1974: "Five Leaves Left" (1969), "Bryter Layter" (1971) e "Pink Moon" (1972).
The Who – Quadrophenia (1973): Quatro anos após o sucesso estrondoso de "Tommy", a banda britânica apresentou outra ópera rock magistral, fruto do gênio de Pete Townshend. A emocionante faixa "Love Reign O'er Me" é citada como uma experiência quase espiritual.
Jeff Buckley – Grace (1994): O álbum de estreia do cantor, recebido com aclamação unânime, prometia torná-lo o artista mais importante da década nos EUA. Uma tragédia em 1997, afogamento no rio Mississippi, interrompeu sua carreira promissora. Um documentário sobre sua vida, "It's Never Over, Jeff Buckley", está disponível na HBO Max.
Carole King – Tapestry (1971): Um clássico absoluto que definiu uma era. O disco, com sua icônica capa da artista com seu gato, é um marco do pop americano, carregando hits eternos como "It's Too Late", "So Far Away" e "You've Got a Friend".
Em um mundo de streams e downloads, estes álbuns representam mais do que música; são pedaços de história, artefatos culturais que carregam em seus sulcos e superfícies brilhantes a memória de uma época em que presentear era um ato de descoberta física e compartilhamento concreto de paixões.