Uma das rotas terrestres mais longas e desafiadoras do planeta se tornou palco de uma história improvável de união no futebol. Torcedores rivais de Palmeiras e Flamengo compartilharam o mesmo veículo durante seis dias em uma jornada épica rumo à final da Copa Libertadores da América, disputada em Lima, no Peru. A reportagem do Profissão Repórter, exibida em 02 de dezembro de 2025, acompanhou de perto os bastidores dessa aventura sobre rodas.
Uma estrada de extremos e camaradagem
A viagem começou no Rio de Janeiro e seguiu por mais de 6 mil quilômetros, passando por estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia. O percurso da maior linha de ônibus do mundo enfrentou congestionamentos, paradas inesperadas e uma variação climática brutal, indo de um calor superior a 40°C no Brasil a temperaturas negativas ao cruzar a Cordilheira dos Andes, no Peru.
Para vencer a distância, seis motoristas se revezaram ao volante. A bordo, a rotina era de adaptação: banhos rápidos e camas improvisadas. “Muita gente enjoada e com dor de cabeça”, contou a torcedora do Flamengo, Thuane Farias. O tempo passava com conversas, música e a transmissão de partidas do Campeonato Brasileiro direto do celular, no meio da BR-364. “Por enquanto, está tranquilo. Espero que continue assim”, brincou o palmeirense Boni Brito.
Tragédia nas comemorações e histórias de superação
A euforia pela final foi interrompida por uma fatalidade. Já em Lima, um ônibus panorâmico alugado por torcedores do Palmeiras passou por baixo de uma passarela. O médico e professor Cauê Brunelli Dezotti, de 38 anos, foi atingido na cabeça. Socorrido por outros passageiros e levado ao hospital, ele não resistiu aos ferimentos. A empresa responsável pelo veículo não se pronunciou sobre o ocorrido.
Entre as dezenas de histórias na caravana, destacou-se a do torcedor Roberto. Ele percorreu 35 dias de mochilão, acampando e cozinhando à beira da estrada, para chegar a Lima. Seu plano inicial era assistir à final do lado de fora do estádio, mas, às vésperas do jogo, conseguiu um ingresso. A partida foi a primeira da vida dele dentro de um estádio. “É o sonho. Viajei acampando, cozinhando na estrada. Agora estou aqui. Valeu cada segundo”, celebrou.
Uma final que ficou na memória, além do placar
No dia da decisão, as ruas de Lima foram tomadas por uma maré verde e rubro-negra. Milhares de torcedores promoveram bandeiraços, cortejos de motos e uma festa que transcendia a rivalidade. Independentemente do resultado em campo, os viajantes trouxeram na bagagem muito mais do que a lembrança de uma final.
“Eu estou feliz e, principalmente, grato por ter vivido essa última década que o Palmeiras me proporcionou”, resumiu Boni Brito. A jornada de seis dias, com seus extremos de temperatura, cansaço e, finalmente, tragédia e celebração, mostrou que a paixão pelo futebol pode unir até rivais históricos em uma das viagens mais extraordinárias já realizadas por torcedores.