Quilombo Mimbó: 200 anos de resistência negra no Piauí
Quilombo Mimbó: 200 anos de história no Piauí

Quilombo Mimbó: 200 anos de resistência e cultura negra no Piauí

No Dia da Consciência Negra, o Piauí celebra a rica história e a resistência da Comunidade Quilombola Mimbó, localizada no município de Amarante, na região sul do estado. Reconhecido como o quilombo mais antigo do Piauí, este território carrega mais de dois séculos de existência e luta pela preservação da cultura afro-brasileira.

Origens históricas e características únicas

O povoado tem uma composição familiar bastante peculiar: 96% dos moradores compartilham o sobrenome Paixão, demonstrando os fortes laços ancestrais que unem a comunidade. De acordo com relatos transmitidos através de gerações, a fundação do quilombo remonta a dois casais escravizados que fugiram de Pernambuco em busca de liberdade.

Estes fundadores viveram escondidos por anos em cavernas próximas ao riacho Mimbó, até finalmente conseguirem estabelecer um território de paz e autonomia. Atualmente, cerca de 176 famílias, somando aproximadamente 600 pessoas, mantêm viva esta herança cultural através da agricultura familiar, culinária tradicional e produção artesanal.

Turismo comunitário ganha força

O fortalecimento do turismo de base comunitária tem sido fundamental para valorizar e preservar a história do Quilombo Mimbó. Em 2025, a comunidade alcançou destaque estadual ao ser representada no Salão do Turismo, um dos principais espaços de promoção dos destinos piauienses.

"O turismo sempre foi muito forte aqui e está se fortalecendo ainda mais", afirma Marta Paixão, uma das líderes da comunidade. "De outubro até agora, já recebemos 16 ônibus com estudantes, pesquisadores e professores".

A experiência turística no Mimbó inclui uma palestra com a professora Idelzuita Paixão, seguida por uma trilha até as cavernas onde viveram os primeiros moradores, finalizando no mirante ou na churrascaria comunitária.

Conquistas recentes e desenvolvimento sustentável

A comunidade celebrou recentemente a regularização fundiária concedida pelo Governo do Estado através do Instituto de Terras do Piauí (Interpi). O título coletivo de propriedade garantiu segurança jurídica sobre o território e abriu novas possibilidades de desenvolvimento sustentável.

Outro avanço significativo foi a implementação do projeto Mimbó Conectado, que instalou pontos de Wi-Fi gratuitos em locais estratégicos, promovendo inclusão digital e ampliando oportunidades de aprendizagem dentro do território quilombola.

Artesanato e agricultura familiar

O artesanato do Mimbó vem se destacando através do projeto Mimbó Artesanato, desenvolvido por mulheres que transformam retalhos de tecido em peças utilitárias e decorativas. Com apoio da designer Kalina Rameiro, a iniciativa fortalece o empreendedorismo feminino e gera renda para as famílias.

A comunidade também é beneficiada pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Quilombola, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Através desta iniciativa, o Governo do Estado adquire a produção local e destina a entidades socioassistenciais, fortalecendo a economia familiar.

Documentário registra memórias

Com patrocínio da Secretaria do Turismo do Piauí (Setur) através do Sistema de Incentivo Estadual ao Turismo (Sietur), foi produzido o documentário "Quilombo Mimbó", assinado pelo fotojornalista Raulino Neto. A obra, com 14 minutos de duração, registra através de entrevistas e imagens a realidade, os costumes e a cultura desta comunidade histórica.

O Quilombo Mimbó continua sendo um símbolo vivo de resistência, identidade e valorização da cultura negra no Piauí, demonstrando como a preservação das tradições ancestrais pode caminhar lado a lado com o desenvolvimento comunitário e sustentável.