Salvador deu um importante passo no reconhecimento da cultura afro-brasileira com a inauguração do Memorial das Matriarcas, nesta quinta-feira (27). O espaço, localizado no histórico bairro do Pelourinho, no Centro de Salvador, presta homenagem às principais lideranças femininas das religiões de matriz africana.
Um espaço de reparação histórica
O memorial foi instalado em um local carregado de significado: a casa onde nasceu Mãe Stella de Oxóssi, uma das mais importantes ialorixás do Brasil. A celebração de inauguração reuniu autoridades e representantes de diversas religiões de matriz africana, marcando um momento de reconhecimento e valorização dessas tradições.
Segundo Mãe Ana de Xangô, Yalorixá do Terreiro Ile Axé Opô Afonja e curadora do espaço ao lado de Ebgome Deusimar, o memorial representa um gesto de reparação. "Ele coloca no centro da narrativa mulheres que, durante muito tempo, foram silenciadas ou invisibilizadas, apesar de serem o alicerce das comunidades e guardiãs de saberes ancestrais", afirmou durante o evento.
Experiência imersiva e interativa
O Memorial das Matriarcas oferece aos visitantes uma experiência rica e diversificada através de seus quatro espaços expositivos. Logo na entrada, na sala à esquerda, o público encontra um conjunto de fotografias emblemáticas da Ialorixá homenageada.
À direita, uma linha do tempo detalha a trajetória de Maria Stella de Azevedo Santos, que foi iniciada no candomblé aos 14 anos por Mãe Senhora, no Ilê Axé Opô Afonjá. Um dos espaços abriga um terminal de vídeo com entrevistas de Mãe Stella, enquanto outro oferece uma experiência imersiva através de um xirê digital criado pelo VJ Gabiru.
Homenagem às tradições ancestrais
Na área externa, um canteiro com folhas sagradas trazidas diretamente do Ilê Axé Opô Afonjá e um mural da artista Nila Carneiro complementam as homenagens à yalorixá. O projeto expográfico foi concebido para receber adaptações a cada nova homenagem, garantindo que o espaço continue vivo e em constante transformação.
Marcelo Lemos, diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), destacou a importância do memorial: "Este Memorial é um gesto de reverência às matriarcas do candomblé, que com sua coragem e sabedoria reafirmaram a força e ancestralidade do nosso povo, enfrentando preconceitos e intolerâncias".
A primeira sacerdotisa homenageada é a antiga moradora do imóvel, celebrando o ano de seu centenário, em um reconhecimento que transforma figuras de devoção em personagens históricas, intelectuais e lideranças políticas, como merecem.