O apresentador Luciano Huck se tornou alvo de uma onda de críticas e cancelamento nas redes sociais após a circulação de um vídeo de bastidores onde ele dá ordens a indígenas do Xingu sobre sua aparência. As imagens, gravadas em agosto de 2025, geraram revolta por reforçarem estereótipos preconceituosos.
O que mostra o vídeo polêmico
O material foi registrado durante as gravações do Domingão com Huck na Aldeia Ipatse, do povo Kuikuro, localizada no Mato Grosso. A equipe do programa estava no local para acompanhar o ritual do Quarup, uma homenagem a líderes indígenas.
No vídeo, é possível ver e ouvir Huck se dirigindo aos indígenas presentes. Ele solicita que removam roupas consideradas "não tradicionais" e que escondam aparelhos celulares e outros itens tecnológicos para as fotografias. Em um trecho, o apresentador chega a dizer: "Quando vocês aparecem de celular mexe na cultura original".
Repercussão imediata e críticas nas redes
A postura de Huck foi rapidamente condenada por usuários da plataforma X, antigo Twitter. A principal crítica aponta que o apresentador adotou uma visão colonialista e estereotipada, como se existisse uma forma "pura" e correta de ser indígena.
"Esse cara fala de um jeito como se o indígena fosse menos indígena por usar celular. Muito estranho, parece que ele quer ensinar como povos indígenas devem preservar sua própria cultura, bizarro", escreveu um internauta. Outros compararam a atitude a fotógrafos que, no passado, pediam que retirantes do sertão vestissem apenas roupas velhas para reforçar um estereótipo de pobreza.
Especialistas em cultura indígena destacam que a fala de Huck ignora a dinâmica e a contemporaneidade dos povos originários. O uso de tecnologia e a adoção de elementos da cultura não indígena não anulam ou diminuem sua identidade cultural.
A defesa do apresentador
Questionado sobre o caso, Luciano Huck se pronunciou por meio de uma nota enviada ao jornal Folha de S. Paulo no dia 5 de dezembro de 2025. Em sua defesa, o apresentador afirmou que sempre defendeu a autonomia dos povos indígenas sobre suas tradições e modos de vida.
Sobre o episódio específico, ele classificou a situação como uma "decisão de direção de arte" e um "ajuste pontual" dentro de um set de filmagem. "Não se tratou de impor qualquer tipo de limitação cultural ou de consumo", garantiu Huck na nota, tentando desvincular a ação de qualquer intenção preconceituosa.
Um debate necessário sobre representação
A polêmica vai além de um simples mal-entendido de bastidores. Ela coloca em pauta questões profundas sobre como a mídia e personalidades públicas retratam os povos indígenas. A exigência de uma aparência "autêntica" e livre de influências modernas congela essas culturas no passado, negando seu direito à evolução e à autodeterminação.
O caso de Luciano Huck serve como um alerta para a necessidade de um olhar mais respeitoso e menos estereotipado. A verdadeira valorização da cultura indígena passa por reconhecê-la em sua plenitude, incluindo suas adaptações e interações com o mundo contemporâneo, sem julgamentos ou imposições externas.