
O cenário literário brasileiro está fervilhando com a divulgação dos finalistas do tão aguardado Prêmio Jabuti, e a categoria Romance trouxe uma revelação que está dando o que falar. A lista, sabe? É dominada massivamente por autores homens. Das cinco vagas cobiçadas, apenas uma foi conquistada por uma mulher. Isso mesmo, apenas uma.
Maria Fernanda Elias Maglio, com sua obra "A Matinta", da Editora Penalux, carrega sozinha a representatividade feminina nessa seleta lista. Enquanto isso, os outros quatro concorrentes são nomes já conhecidos do meio: Itamar Vieira Junior, vencedor da categoria em 2020, com "Salvar o Fogo" (Todavia); Michel Laub com "O Clube dos Psicopatas" (Companhia das Letras); Marcelo Maluf com "A chuva no escuro" (Iluminuras); e José Almeida Júnior com "O livro das ressurreições" (Record).
Um retrato que se repete?
O que mais choca nessa história toda não é apenas o desequilíbrio deste ano. Se olharmos para trás, nos últimos cinco anos, a coisa fica ainda mais evidente. Das 25 vagas de finalistas em Romance desde 2019, apenas seis foram ocupadas por mulheres. É um dado que faz a gente pensar, não é mesmo?
E não para por aí. A categoria Contos, que normalmente tem uma presença feminina mais forte, também apresentou um resultado curioso: três mulheres entre os cinco finalistas. Parece bom, mas ainda está longe do ideal.
Os números que contam uma história
Vamos aos detalhes que realmente importam. A curadoria do prêmio, composta por cinco especialistas - três mulheres e dois homens - analisou impressionantes 483 inscrições na categoria Romance. Desse total, 242 eram de autoras mulheres. A matemática é cruel: elas representaram 50,1% das inscrições, mas apenas 20% das finalistas.
É como se houvesse um funil que vai estreitando conforme se avança no processo. E o pior: essa não é uma realidade exclusiva do Jabuti. Outros prêmios importantes, como o Oceanos e o São Paulo de Literatura, mostram padrões semelhantes nos últimos tempos.
O que dizem os envolvidos
A organização do prêmio, através da Câmara Brasileira do Livro (CBL), se defende afirmando que o processo é totalmente cego. Os curadores não têm acesso a nomes ou informações sobre os autores durante a seleção. A teoria é bonita, mas a prática está mostrando resultados que precisam ser discutidos.
Enquanto isso, nas redes sociais e nos círculos literários, o debate esquenta. Alguns questionam se existe um viés inconsciente operando nas escolhas. Outros apontam para questões estruturais do mercado editorial como um todo. A verdade é que a conversa está só começando.
E agora, José?
O Prêmio Jabuti sempre foi considerado o Oscar da literatura brasileira. Sua importância é inquestionável. Mas episódios como esse nos fazem refletir: até que ponto nossos prêmios literários estão realmente representando a diversidade de vozes que compõem nossa rica produção cultural?
Enquanto aguardamos a cerimônia de premiação, marcada para 28 de outubro, fica a pergunta no ar: quando veremos uma lista de finalistas que espelhe verdadeiramente a pluralidade de quem escreve no Brasil hoje? A resposta, meus caros, ainda está sendo escrita.