Estátua branca de padre negro causa revolta em cidade mineira
A instalação de uma estátua branca representando Padre Victor, considerado o primeiro homem negro e pessoa escravizada liberta reconhecido como sacerdote no Brasil, está gerando forte polêmica em Três Pontas, Minas Gerais. A escultura foi inaugurada no último sábado, dia 15 de novembro, na Praça Cônego Victor, como parte das comemorações pelos 10 anos de beatificação do religioso.
Protestos contra embranquecimento histórico
Movimentos sociais e entidades de defesa da cultura afro-brasileira manifestaram indignação com a representação da figura histórica com pele branca. O grupo Eusoubrasilidade publicou um manifesto público classificando a imagem como "apagamento racial" e "violência simbólica".
No documento, o grupo é enfático: "Três Pontas instalou uma estátua branca de um homem negro. Isso tem nome: racismo. Isso tem uma história: apagamento. Isso tem consequência: violência simbólica. O beato Padre Victor era negro", afirma o texto do manifesto.
Justificativa da Diocese e posição de historiador
A Diocese da Campanha, responsável pela estátua, explicou que a imagem foi produzida em pó de mármore, mesmo material utilizado na estátua de São José que também está localizada na mesma praça. Segundo a instituição religiosa, a escolha do material se deve à sua maior durabilidade em ambiente externo comparado a uma imagem de gesso colorida.
O historiador Matehus Baltazar criticou a decisão, afirmando que o embranquecimento descaracteriza totalmente a história do religioso. "Construir uma estátua branca para representar esse homem negro é jogar praticamente toda a sua história, toda sua luta, toda sua mazela no lixo", declarou o especialista.
Padre Victor foi beatificado em 14 de novembro de 2015 e atualmente a Igreja Católica busca comprovar seu segundo milagre para prosseguir com o processo de santificação. A Associação Padre Victor, procurada pela reportagem, não se manifestou sobre a polêmica.
