A política brasileira ganhou um novo capítulo de esperança com o lançamento do livro "O que te faz lutar?", resultado da parceria entre dois deputados federais do Psol que representam lados aparentemente opostos do espectro social. De um lado, Erika Hilton, deputada trans, negra e defensora dos direitos LGBTQIA+. Do outro, Henrique Vieira, pastor progressista e voz ativa contra o fundamentalismo religioso.
Uma amizade que desafia estereótipos
Os dois parlamentares se conheceram já no cenário político e rapidamente descobriram que tinham muito mais em comum do que poderiam imaginar. Apesar das trajetórias diferentes, ambos compartilhavam o mesmo objetivo: combater a exclusão e promover o diálogo entre grupos tradicionalmente separados por preconceitos.
Em entrevista à coluna GENTE, Erika Hilton explicou que a obra, lançada em outubro de 2025 pela editora Planeta, busca justamente criar pontes onde antes existiam apenas muros. "Quando discutimos por que escrever um livro e por que criar um diálogo entre um pastor e uma travesti, a prioridade é essa: humanização, respeito, direito à dignidade", afirmou a deputada.
O poder transformador do encontro
Para os dois deputados, a parceria que nasceu no Congresso Nacional se revelou profundamente transformadora. Erika destaca que, ao chegarem no legislativo, perceberam a existência de uma "tentativa de afastamento sistemático" entre pautas religiosas e questões envolvendo a comunidade LGBT, especialmente pessoas trans.
"Vimos ali uma união potente. Uma união de mostrar: por que um pastor não pode respeitar e, mais do que apenas respeitar, lutar ao lado das pessoas nas suas multiplicidades? O Henrique se tornou esse companheiro de luta", recorda Hilton.
Quebrando preconceitos na sociedade
A naturalidade com que desenvolveram essa relação ajuda, segundo Erika, a desconstruir estereótipos enraizados na sociedade brasileira. Ela propõe uma reflexão poderosa: e se um pastor, ao ver uma travesti na esquina, enxergasse um ser humano em vez de "o mal", "o perigo" ou "o demônio"?
"Somos todas pessoas com dores, encontros e cruzamentos. E quando deixamos de lado preconceitos e nos conectamos na humanidade, um pastor e uma travesti podem ser, inclusive, instrumentadores da democracia, da diversidade religiosa e de muitas outras questões", reflete a deputada.
O livro relata não apenas o início dessa parceria improvável, mas também as batalhas enfrentadas por ambos nas Câmaras dos Deputados. A obra se propõe a mostrar como a política pode ser feita com afeto e como é possível construir pontes em um cenário frequentemente marcado pela polarização.
Para Erika Hilton, essa experiência demonstra que, "quando escanteamos tudo o que é ensinado, vemos potências e encontros que parecem impossíveis, mas não são". Uma mensagem de esperança em tempos de divisões profundas.