Quadro de Klimt atinge R$ 1 bilhão e se torna 2ª obra mais cara da história
Klimt: retrato bate R$ 1 bi e é 2ª obra mais cara

O mercado de arte internacional registrou um marco histórico nesta semana com a venda milionária de uma obra do austríaco Gustav Klimt. O Retrato de Elisabeth Lederer alcançou a impressionante cifra de 236,4 milhões de dólares, o equivalente a mais de 1 bilhão de reais, em um leilão realizado pela Sotherby's.

Um recorde para a história da arte

Com este valor extraordinário, a pintura de Klimt se consolida como a segunda obra de arte mais cara já vendida em leilão em toda a história. A posição de liderança ainda pertence ao Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci, que foi adquirido por 450 milhões de dólares.

O retrato superou ainda outra obra icônica: o quadro de Marilyn Monroe criado por Andy Warhol em 1964, que havia sido comprado por 195 milhões de dólares em 2022. Isso faz do trabalho de Klimt o retrato mais lucrativo já negociado no mercado artístico.

A obra e sua trajetória misteriosa

O Retrato de Elisabeth Lederer foi pintado entre 1914 e 1916 e retrata a jovem aos 20 anos de idade, vestindo um traje tradicionalmente chinês. A modelo não era uma desconhecida do artista - Elisabeth era filha dos mecenas de Klimt e mantinha uma relação quase paternal com o pintor, segundo relatos de historiadores.

A pintura possui uma história de raridade e exclusividade. Desde 1985, a obra pertencia à coleção pessoal de Leonard A. Lauder, herdeiro da famosa empreendedora de cosméticos Estée Lauder. Durante quase quatro décadas, o quadro permaneceu majoritariamente em sua residência na Quinta Avenida, em Nova York, sendo raramente exposto ao público.

Algumas instituições culturais tiveram o privilégio de exibir temporariamente a obra, incluindo o prestigiado Museu de Arte Moderna (MoMA), a Neue Galerie e a Galeria Nacional do Canadá. A morte de Lauder em junho de 2025 foi o evento que possibilitou que esta joia artística retornasse ao mercado.

O drama histórico por trás do retrato

A história por trás desta pintura é marcada por momentos de grande tensão e sobrevivência. Elisabeth Lederer pertencia a uma abastada família judia que possuía não apenas este, mas diversos outros quadros de Klimt em sua coleção.

Com a anexação da Áustria pelos nazistas em 1938, a família sofreu um duro golpe: todas as suas obras de arte foram roubadas pelo regime. Em um ato de desespero para sobreviver ao Holocausto, Elisabeth afirmou que Gustav Klimt - que não era judeu - seria seu verdadeiro pai biológico.

Esta versão, embora falsa, foi endossada por sua mãe e permitiu que a jovem continuasse vivendo em Viena. Tragicamente, Elisabeth faleceu de uma doença grave em 1944, apenas um ano antes do término da Segunda Guerra Mundial.

Klimt e seu legado artístico

Gustav Klimt, nascido em Viena em 1862, foi um dos expoentes do movimento simbolista. Em um contexto de acelerada industrialização e desenvolvimento capitalista no século XIX, o simbolismo propunha uma retomada de valores mais abstratos, como misticismo e imaginação, em oposição ao realismo e à objetividade.

O artista é mundialmente conhecido por sua obra O Beijo, mas o Retrato de Elisabeth Lederer estabelece agora um novo patamar de valor para seu legado. O valor de venda supera em mais do que o dobro o recorde anterior de Klimt, que pertencia à obra A Dama com um Leque, vendida por 108 milhões de dólares em 2023.

Este leilão histórico não apenas consolida Klimt entre os artistas mais valorizados do mundo, mas também revela ao público uma obra que permaneceu envolta em mistério e exclusividade por décadas, carregando consigo uma das narrativas mais dramáticas e emocionantes da história da arte moderna.