Orquestra Maré do Amanhã completa 15 anos transformando vidas no Rio
Orquestra Maré do Amanhã: 15 anos de transformação social

Há quinze anos, um projeto nascido de uma tragédia familiar vem escrevendo uma nova história de esperança e oportunidades no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A Orquestra Maré do Amanhã, criada em 2010, consolidou-se como um dos principais projetos socioculturais do estado, usando a música como ferramenta de transformação social para crianças e jovens.

Da dor à transformação: a origem do projeto

A iniciativa foi fundada pelo jornalista Carlos Eduardo Prazeres, motivado por um evento traumático. Após o sequestro e assassinato de seu pai, o maestro Armando Prazeres — crime cujo autor, segundo a polícia, era morador do Complexo da Maré —, Carlos Eduardo optou por um caminho oposto ao do afastamento. Ele decidiu honrar a memória do pai e combater a violência investindo na comunidade através da música, paixão que herdou.

O projeto nasceu, portanto, como uma resposta construtiva à dor, focada em criar portas de saída e novos horizontes. Milhares de alunos da rede pública já passaram pela orquestra ao longo de uma década e meia, tendo seu primeiro contato com a música e com um instrumento musical dentro do projeto.

Impacto concreto e histórias de vida

A atuação da Orquestra Maré do Amanhã vai muito além das aulas de música. O projeto oferece um suporte integral aos participantes, incluindo atendimento psicológico e uma ajuda de custo. Essa estrutura amplia significativamente as possibilidades de os jovens permanecerem no programa e se desenvolverem plenamente.

Os frutos dessa abordagem são visíveis em trajetórias inspiradoras. Stephaniy Crespo Rocha Grativol, de 19 anos, ingressou ainda criança e hoje é musicista da orquestra. Já Thalia Carvalho, também musicista, com o apoio recebido, conseguiu ingressar na faculdade de Direito e atua como professora de contrabaixo para novos alunos, fechando um ciclo virtuoso de aprendizado e retribuição.

Atualmente, o projeto atende estudantes de cerca de 30 escolas públicas da Maré. Somente no ano passado, mais de 4 mil crianças e jovens participaram das atividades, que buscam ampliar suas perspectivas de vida.

Reconhecimento e um futuro promissor

Os quinze anos de trajetória bem-sucedida foram recentemente registrados em um livro que reúne histórias de alunos formados pela orquestra. O projeto também coleciona conquistas de prestígio: em 2023, foi reconhecida oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro e já se apresentou em diferentes países.

Uma das histórias mais simbólicas do poder transformador da iniciativa é a do violinista David. Ex-aluno, ele apresentou durante o concerto de Natal da orquestra no Jardim Botânico o primeiro violino que construiu do zero. Hoje, David mora na Itália, onde cursa formação para se tornar luthier — um profissional especializado na construção de instrumentos. Ele já planeja voltar à Maré no futuro para compartilhar seu conhecimento e criar novas oportunidades.

A cada acorde e apresentação, a Orquestra Maré do Amanhã reafirma que a música é, de fato, uma possibilidade concreta de novos caminhos, especialmente para quem cresce enfrentando desafios históricos. O projeto prova que, mesmo em solo árido, é possível fazer florescer talento, dignidade e um amanhã mais promissor.