A cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, está de luto nesta sexta-feira, 5 de julho. Fernando Martines Castijo, conhecido como Fernandinho do Depois, faleceu pela manhã. Ele era uma das figuras mais emblemáticas do tradicional Depois Bar e Arte, ponto cultural fundamental na história recente do município.
A Alma do Bar e Sua Trajetória
Fernandinho dedicou metade de sua vida ao Depois Bar, sendo um dos primeiros funcionários e, posteriormente, um dos proprietários. O estabelecimento, que completa 40 anos de existência neste mês, foi aberto no início da década de 1980 por Nilo Seiffert e Orivaldo Simonetti. Nascido em uma família humilde de forte ascendência espanhola, Fernandinho tinha paixões que iam muito além do balcão. Desde menino era fascinado pelo rádio e, principalmente, pelo cinema.
O jornalista Gai Sang relembra que ele era um cinéfilo apaixonado por filmes americanos antigos, com uma vasta coleção de fitas-cassete, revistas, cartazes e trilhas sonoras. Entre seus diretores preferidos estavam Charles Chaplin e Alfred Hitchcock. Essa veia artística o levou a se arriscar em produções cinematográficas, mas foi nos trajes de garçom que ele se tornou uma lenda urbana.
Um Ponto de Encontro da História
O Depois Bar surgiu em um período de abertura política no país e rapidamente se tornou um importante polo de discussões e manifestações culturais. Foi no local que nasceram o Partido dos Trabalhadores (PT) de Sorocaba e o Grupo Imagem, entre outras iniciativas. As conversas, muitas vezes acaloradas, eram mediadas pela inteligência rápida e pelo humor sarcástico de Fernandinho.
Orivaldo Simonetti, um dos fundadores, destaca o caráter do amigo: "Fernando era um cara muito doce com as pessoas, competente e capaz, ao mesmo tempo sério e austero. Ele superava todo aquele burburinho político do final da ditadura". O orgulho de ver o funcionário se tornar sócio também é um marco em sua história. "Foi um motivo de super orgulho para a gente ver o cara que começou trabalhando se transformar em dono", relata Simonetti.
Saúde e Despedida
Fernandinho já estava afastado das funções no bar desde o início da pandemia. Vera Lúcia, uma das últimas proprietárias, conta que a decisão de vender o negócio foi tomada pelo cansaço de muitos anos trabalhando à noite e pelo contexto da Covid-19. Fernandinho contraiu o vírus, tomou três doses da vacina, mas desenvolveu problemas cardíacos e pressão alta.
"Um mês e meio atrás ele teve síndrome de Guillain-Barré, mas não deu tempo nem de fechar o diagnóstico", lamenta Vera. Ele faleceu coincidentemente no Dia Nacional do Happy Hour, encerrando seu expediente de vida. O velório ocorre a partir das 19h desta sexta-feira na Ossel de Votorantim. O sepultamento está marcado para o sábado, 6 de julho, no Cemitério da Consolação.
A partida de Fernandinho deixa um vazio não apenas no Depois Bar, mas no cenário cultural de Sorocaba. Ele era mais que um garçom; era um intelectual, militante, colecionador e cineasta que, com seu jeito único, ajudou a escrever páginas importantes da história da cidade.