O mundo do cinema viveu um dia de extremos contrastes para o renomado cineasta iraniano Jafar Panahi. Nesta segunda-feira, 1 de dezembro de 2025, ele foi celebrado em Nova York, conquistando o prestigiado Gotham Awards, enquanto, simultaneamente, era condenado judicialmente em seu país natal, o Irã.
Triunfo artístico em solo americano
Durante a cerimônia do Gotham Awards, realizada em Nova York, o filme 'Foi Apenas Um Acidente' garantiu a Panahi um feito notável. O longa-metragem, que já havia conquistado a Palma de Ouro no Festival de Cannes neste ano, levou para casa três prêmios importantes: Melhor Roteiro Original, Melhor Diretor e Melhor Filme Internacional. Com essa vitória, a produção superou o filme brasileiro 'O Agente Secreto' na categoria internacional.
Condenação e restrições no Irã
No mesmo dia da celebração em Nova York, a Justiça do Irã emitiu uma sentença severa contra o diretor. Jafar Panahi foi condenado a um ano de prisão por supostas "atividades de propaganda" contra o governo iraniano. De acordo com informações divulgadas pela revista Variety e confirmadas por seu advogado, a pena também inclui outras sanções restritivas.
As medidas impostas ao cineasta são:
- Proibição de viajar pelo período de dois anos.
- Vedação de se associar a qualquer grupo político ou social.
Esta não é a primeira vez que Panahi enfrenta a repressão do regime. O artista já foi detido em duas ocasiões anteriores, sempre acusado de fazer propaganda contra o governo. Em ambos os casos, ele só foi libertado após entrar em greve de fome. A Justiça iraniana também havia proibido que ele continuasse a fazer filmes, uma ordem que ele desobedeceu ao realizar 'Foi Apenas Um Acidente' de forma clandestina.
O filme que desafiou o regime
A obra premiada, que teve pré-estreia no Rio de Janeiro na noite de 1º de dezembro e está disponível no Brasil pela plataforma Mubi, narra a história de um torturador do governo iraniano que acaba nas mãos de seus antigos prisioneiros. O processo de filmagem foi marcado por riscos e obstáculos.
A produção foi realizada de maneira secreta, e a polícia chegou a interromper as gravações. Mesmo assim, a equipe conseguiu finalizar o projeto às pressas algumas semanas depois, garantindo que a mensagem do filme chegasse ao mundo e fosse reconhecida com a maior honraria de Cannes e agora com os prêmios do Gotham Awards.
O caso de Jafar Panahi ilustra de forma dramática o conflito entre a liberdade de expressão artística e a censura estatal, colocando o cineasta no centro de um debate internacional sobre direitos humanos e criatividade sob regimes autoritários.