Mais do que um simples documentário, "Lumière: A Aventura Continua" se apresenta como uma verdadeira imersão educativa nas raízes da sétima arte. Dirigido por Thierry Frémaux, o polêmico diretor do Festival de Cannes desde 2007, o filme chega aos cinemas em 2025 como uma sequência do trabalho iniciado em 2016 com "Lumière: A Aventura Começa".
Um Tesouro Visual Restaurado
A obra exibe um acervo precioso: 120 curtas-metragens, conhecidos como "vistas", que foram realizados entre os anos de 1895 e 1905 e passaram por um meticuloso processo de restauração recente. Muitas dessas imagens são raríssimas, pouco conhecidas do grande público, e algumas estão sendo exibidas com uma qualidade inédita.
Frémaux não se limita a compilar os filmes. Ele os contextualiza com comentários perspicazes e os acompanha com uma trilha sonora composta por belíssimas peças musicais de Gabriel Fauré. Essa combinação eleva a experiência, transformando a projeção em uma reflexão profunda sobre a linguagem cinematográfica.
A Revolução de Louis Lumière
O filme destaca o papel visionário de Louis Lumière
Nas "vistas" apresentadas, já é possível identificar elementos formais revolucionários para a época:
- Experimentos com profundidade de campo.
- Composição em grande escala e diferentes angulações.
- Uma continuidade estética com a pintura do século XIX.
- Movimentos de câmera pioneiros, realizados ao colocar o aparelho em trens e barcos.
"Os enquadramentos de Lumière são magníficos, e seus filmes anunciam que o cinema é uma promessa estética", afirma Frémaux em um dos comentários, com toda a razão. A beleza das composições, que capturam desde cenas urbanas em grandes cidades até momentos familiares e esportivos, emociona tanto pela importância histórica quanto pela pura qualidade artística.
Uma Lição para o Cinema Contemporâneo
O longa vai além da nostalgia. Ele propõe uma lição crucial para os cineastas de hoje. Frémaux critica a desvalorização contemporânea da composição de planos, uma qualidade fundamental desde os primórdios. Rever Lumière, portanto, é um exercício de "despoluição" do olhar, um antídoto contra a banalidade do audiovisual descartável.
A obra também desfaz um equívoco histórico comum: a simplória divisão que atribui o documentário a Lumière e a ficção a Georges Méliès. O filme argumenta que ambos foram pioneiros nos dois registros. A diferença essencial está na abordagem: Lumière era um cineasta do plano, da continuidade da ação e do realismo, enquanto Méliès, o prestidigitador, era um mestre da montagem e da ilusão criada pelo corte.
Frémaux, com sua autoridade e conhecimento, tece conexões entre as "vistas" e o trabalho de outros gênios como Abel Gance, Sergei Eisenstein, John Ford, Fritz Lang, Yasujiro Ozu e Abbas Kiarostami, mostrando que a semente de tudo já estava lá, de forma embrionária, nos filmes de Lumière.
"Lumière: A Aventura Continua" é, em sua essência, uma aula magistral. Uma aula que só poderia ser ministrada por Thierry Frémaux, através do arranjo inteligente e da análise profunda das imagens criadas por Louis Lumière. Uma experiência indispensável para quem ama cinema e quer entender suas origens mais puras e promissoras.
LUMIÈRE: A AVENTURA CONTINUA!
Avaliação: Ótimo
Classificação: 10 anos
Produção: França, 2025
Direção: Thierry Frémaux
Onde ver: Em cartaz nos cinemas