Em um contraste marcante entre repressão e reconhecimento, o renomado cineasta iraniano Jafar Panahi foi premiado em Nova York apenas um dia após ser condenado à prisão em seu país natal. O diretor de 65 anos venceu o prêmio de Melhor Diretor pelo filme "Foi Apenas Um Acidente" no New York Film Critics Circle Awards (NYFCC). O anúncio foi feito pela organização nas redes sociais na terça-feira, dia 2.
Condenação e restrições na Justiça iraniana
A condenação que paira sobre Panahi foi divulgada na segunda-feira, 1º, pelo seu advogado, Mostafa Nili, à agência de notícias AFP. A Justiça do Irã sentenciou o artista a um ano de prisão por "atividades de propaganda" contra o Estado. Além da pena privativa de liberdade, a sentença inclui uma proibição de viajar pelo período de dois anos. A defesa do cineasta já informou que irá recorrer da decisão.
Esta não é a primeira vez que Panahi enfrenta a perseguição do regime iraniano. O diretor, que já foi preso em duas ocasiões anteriores, transformou-se de um aclamado realizador de histórias infantis em um autor combativo, cujos filmes abordam temas sociais sensíveis e críticos, o que lhe rendeu anos de censura e detenções.
Triunfo artístico em meio à adversidade
A vitória no NYFCC ocorre no mesmo ano em que Jafar Panahi conquistou a maior honra do cinema mundial: a Palma de Ouro no 78º Festival de Cinema de Cannes, também pelo filme "Foi Apenas Um Acidente" (originalmente "A Simples Accident"). Durante a cerimônia de encerramento em Cannes, Panahi subiu ao palco acompanhado de membros de sua equipe e de sua filha, Solmaz Panah, em um momento de celebração familiar e profissional.
O longa-metragem premiado é uma obra de coragem. Ele narra a história de um torturador do governo iraniano que acaba nas mãos de seus antigos prisioneiros. A produção do filme foi um ato de resistência: as filmagens foram realizadas de forma clandestina e chegaram a ser interrompidas pela polícia, sendo finalizadas às pressas algumas semanas depois.
Otimismo e esperança como resistência
Recentemente, Panahi realizou uma série de viagens internacionais para promover seu trabalho. Nos Estados Unidos, onde comemorou o sucesso do filme – que tem a França como seu representante na corrida por uma indicação ao Oscar de 2026 –, o diretor manteve seu espírito resiliente.
Em entrevista ao g1, Panahi refletiu sobre a necessidade de otimismo para continuar criando. "Se eu não fosse um otimista, não conseguiria fazer esse filme. Porque se você sempre pensa que nada vale a pena, que nunca vai mudar nada, por que faria qualquer coisa? É preciso criar esperança para você mesmo para poder trabalhar", afirmou o cineasta.
O caso de Jafar Panahi simboliza a luta contínua pela liberdade de expressão artística em regimes autoritários. Enquanto enfrenta uma condenação penal em casa, seu trabalho continua a ser celebrado e premiado internacionalmente, destacando o poder universal da arte e a coragem indomável de seus criadores.