A cineasta e atriz americana Eva Victor transforma uma experiência pessoal profundamente dolorosa em arte com o filme Sorry, Baby. A obra, que mistura drama e humor para narrar um processo de cura, chega aos cinemas do Brasil na quinta-feira, 11 de dezembro de 2025.
Da Pandemia à Tela: A Gênese de um Projeto Pessoal
A ideia para o filme nasceu durante o isolamento da pandemia. Na época, Eva Victor, que integrava o elenco da série Billions, buscava refúgio no cinema para combater a solidão. Foi dessa necessidade que surgiu o roteiro inicial, uma forma de ela própria enfrentar a ferida emocional de um abuso sexual sofrido no passado, sobre o qual nunca havia falado publicamente.
Eva enviou o texto à produtora do renomado cineasta Barry Jenkins, vencedor do Oscar por Moonlight. A resposta foi além do esperado: não só o projeto foi tirado do papel, como Jenkins incentivou a artista a torná-lo ainda mais pessoal. Assim, a jovem de 31 anos assumiu o comando como diretora, roteirista e protagonista da produção, uma coprodução entre Estados Unidos, Espanha e França.
Uma Narrativa Sensível sobre o Tempo do Trauma
Premiado no Festival de Sundance e aplaudido em Cannes, Sorry, Baby oferece um olhar sensível sobre o peso psicológico causado por um evento traumático. A trama acompanha Agnes (Eva Victor), uma mulher estagnada na vida, que recebe a visita da amiga Lydie (Naomi Ackie) durante um rigoroso inverno nos arredores de Boston.
O filme é dividido em capítulos e abandona a linearidade cronológica, refletindo a ideia de que o tempo é relativo na mente de quem carrega um trauma. A narrativa retrocede ao "ano do acontecimento ruim", revelando gradualmente o que aconteceu com a protagonista, sem, no entanto, mostrar cenas explícitas. A escolha da diretora foi focar totalmente na vítima e em seu processo interno, e não no agressor.
O Equilíbrio entre o Drama e a Recuperação
Com background em esquetes de humor na internet, Eva Victor demonstra grande destreza ao balancear momentos engraçados com cenas de forte carga dramática. O caminho de Agnes pela cura é retratado com realismo: ela reaprende a confiar, enfrenta altos e baixos e, em um gesto simbólico, adota um gatinho como suporte emocional.
A mensagem central do filme é de esperança: feridas profundas também podem cicatrizar. Sorry, Baby se propõe a ser um farol para outras pessoas que passaram por situações similares, mostrando que elas não estão sozinhas. A estreia nacional marca a chegada de uma das obras independentes mais aclamadas do ano, que já conquistou o público e a crítica nos principais festivais de cinema do mundo.