Documentário 'Hardflip' registra 6 décadas do skate em Presidente Prudente
Hardflip: 60 anos do skate em Presidente Prudente

O skate de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, acaba de ganhar seu primeiro registro audiovisual em larga escala com o documentário 'Hardflip: Filosofia das Ruas'. Dirigido pelo cineasta local Lucas Abdalla, o curta-metragem mergulha em mais de seis décadas da cena skateboard da cidade para mostrar como o esporte se transformou em um movimento cultural, afetivo e social.

A origem do projeto

A ideia do documentário surgiu quando Lucas Abdalla começou a acompanhar mais de perto a cena local através de seu filho, que era aluno do skatista Nê Fagundes. 'A partir daí, tive mais contato com a cultura skateboard local e vi que existia um movimento sólido na cidade, com várias décadas de história', revelou o diretor em entrevista ao g1.

Foi Nê quem apresentou Abdalla ao skatista Digão, ativo na cena desde os anos 1970. A primeira entrevista com ele já mostrou que havia uma história maior a ser registrada: 'A partir dessa primeira entrevista, tive certeza de que o documentário iria sair do papel', afirmou o cineasta.

Seis décadas de memórias

Para contemplar diferentes gerações de skatistas, o documentário constrói sua narrativa a partir de personagens que marcaram a cena local desde os anos 1970. O processo de pesquisa reuniu fotos, vídeos e relatos pessoais que, segundo o diretor, deram ao curta uma identidade visual própria.

'Conseguimos fotos ou vídeos de todas as gerações, isso deu uma característica muito interessante no documentário: uma diversidade de texturas que se interligam e ajudam a criar uma narrativa', explicou Abdalla.

O diretor destaca que alguns momentos da edição foram especialmente emocionantes. Ao revisitar histórias antigas e recentes, o filme mostra como o skate influencia aspectos sociais, físicos e psicológicos de quem pratica. 'Ter contato com as pessoas e suas histórias foi uma experiência sensacional', afirmou.

Superação através do skate

O título 'Hardflip' carrega uma metáfora central para a construção do filme: transformar dificuldade em superação. Essa ideia aparece em relatos de personagens que enfrentaram desafios profundos ao longo da vida, mas encontraram no skate um caminho de resistência.

'O Digão Skater convive com uma deficiência na perna desde a infância e isso não impediu ele de ser uma das maiores referências da cidade e ter influenciado centenas de pessoas durante as quase seis décadas de história no skate', comentou o diretor.

Lucas também cita casos como os de Micuim, que passou quase um ano sem poder andar após um acidente de trabalho, e Gabriel Melo, que usou o skate para se reerguer após a perda do irmão.

Produção e trilha sonora

A trilha sonora inédita foi criada em parceria com a banda prudentina Céu Cinza. O diretor explica que buscou elementos sonoros que representassem as emoções ligadas ao skate, desde energia até melancolia.

'Criamos um som pesado, com momentos intensos e outros mais calmos. Uma sonoridade que remete aos anos 2000. Impossível não citar Charlie Brown Jr', relatou Abdalla.

O documentário foi financiado pela Política Nacional Aldir Blanc, o que possibilitou a produção em maior escala. 'Ter um apoio como esse possibilita ter uma equipe maior, mais organização e, consequentemente, um resultado melhor', afirmou o diretor.

Patrimônio cultural prudentino

Para Abdalla, este é um momento simbólico para registrar a história do skate prudentino. Ele lembra que o Half do Parque do Povo é um dos principais marcos físicos da cena, um espaço que já recebeu encontros, eventos e gerações inteiras de praticantes.

'Esse lugar já foi palco de milhares de encontros, eventos e, até hoje, é um dos ambientes mais democráticos e inclusivos da cidade', destacou.

Com apenas 20 minutos de duração, o curta exigiu decisões rígidas de montagem devido ao grande volume de entrevistas e arquivos. A equipe optou por preservar características originais das imagens antigas durante a pós-produção.

Circuito de exibições

Além da estreia na Unesp, o projeto prevê exibições gratuitas em escolas e espaços culturais. A ideia é aproximar jovens da cultura skateboard.

'Queremos mostrar para a comunidade, principalmente para os jovens, como essa cultura global é interessante e como andar de skate pode ser uma atividade muito divertida e trazer momentos inesquecíveis, além de incluir e, muitas vezes, dar direcionamento de vida', afirmou o diretor.

O bate-papo após a exibição deve reunir personagens de diferentes épocas, criando um ambiente de troca e reconhecimento da própria comunidade. 'Vai ser incrível ver todas as gerações do skate da cidade unidas. O skate tem essa capacidade de unir os mais diferentes tipos de pessoas', completou Abdalla.

Depois da estreia, o curta inicia um circuito de festivais e novas exibições na região e em outras partes do país. 'O objetivo é fazer esse trabalho rodar o Brasil, principalmente nossa região do oeste paulista', finalizou.

Serviço

Evento: lançamento do documentário 'Hardflip: Filosofia das Ruas'

Data: quarta-feira (3)

Horário: às 19h

Local: FCT Unesp – Anfiteatro 1 - Rua Roberto Símonsen, 305 – Centro Educacional, Presidente Prudente (SP)

Programação:

  • Exibição do curta-metragem (20 min)
  • Bate-papo com participantes

Duração total: 1h a 1h30

Entrada: gratuita

Classificação: livre

Apoio: Comitê de Ação Cultural (CAC) da FCT Unesp