Jafar Panahi preso no Irã: diretor da Palma de Ouro pode perder Oscar 2026
Cineasta Jafar Panahi preso no Irã após vencer Cannes

O cenário internacional do cinema foi abalado por uma notícia que mistura arte, política e repressão. Jafar Panahi, o renomado cineasta iraniano que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em maio deste ano, foi detido mais uma vez pelas autoridades do seu país. A informação foi confirmada pelo seu advogado à agência de notícias AFP.

Sentença judicial e acusações contra o artista

Panahi foi formalmente acusado de fazer “propaganda” contra o regime iraniano. Como resultado do processo, ele recebeu uma sentença severa: um ano de prisão e a proibição de deixar o Irã por dois anos. Seu advogado já anunciou que irá recorrer da decisão judicial. Esta não é a primeira vez que o diretor, conhecido por suas posições críticas ao governo autoritário do país, enfrenta a justiça iraniana.

A detenção ocorre em um momento crucial para a carreira do artista. Seu filme vencedor em Cannes, “Foi Apenas um Acidente”, é considerado um dos fortes candidatos ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026. A produção representará a França na disputa e deve concorrer diretamente com o filme brasileiro “O Agente Secreto”.

Consequências para a temporada de premiações

Se a sentença não for revertida em um recurso, Panahi pode ser impedido de participar das principais cerimônias de premiação do próximo ano, incluindo o Oscar. O diretor tinha uma agenda internacional lotada para divulgar o filme, que inclusive estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira, 4 de dezembro. Recentemente, ele esteve em São Paulo para participar da Mostra de Cinema, evidenciando sua projeção global.

A trajetória de Panahi é marcada por resistência. Sua primeira grande condenação ocorreu em 2010, quando foi sentenciado a seis anos de prisão e proibido de fazer filmes por 20 anos, por apoiar protestos contra o governo. Mesmo sob essa censura, ele continuou criando. Em 2011, filmou clandestinamente o documentário “Isto Não É um Filme” dentro de sua própria casa, obra que foi contrabandeada para a Europa.

Histórico de confrontos e a arte como resistência

Em 2015, ele surpreendeu o mundo com “Táxi Teerã”, filme rodado dentro de um carro, onde conversava com passageiros comuns. Já em 2022, foi preso novamente após confrontar publicamente a polícia que havia detido outros cineastas. Na ocasião, ele foi libertado após sete meses, graças a uma greve de fome.

É justamente essa experiência traumática na prisão que serviu de base para seu aclamado filme atual, “Foi Apenas um Acidente”. A obra, que consagrou Panahi em Cannes, é um testemunho poderoso de como o artista transforma a perseguição política em matéria-prima para sua arte. Agora, a realidade novamente se impõe, e o ciclo de repressão e criação parece se repetir, colocando em risco não só a liberdade do diretor, mas também seu reconhecimento no maior palco do cinema mundial.