Ator de Central do Brasil vive drama de imigrante ilegal nos EUA
Ator de Central do Brasil vive drama de imigrante

O ator Vinícius de Oliveira, conhecido por sua atuação em Central do Brasil, viveu na pele o drama dos imigrantes ilegais durante uma recente viagem aos Estados Unidos. A experiência marcante ocorreu em 2023, quando o artista foi detido pela imigração americana enquanto fazia conexão em Washington.

Detenção traumática nos EUA

Em entrevista exclusiva à VEJA, o ator de 40 anos revelou os detalhes do episódio que o fez sentir na pele a realidade dos imigrantes. "Quando cheguei em Washington para pegar minha conexão, a imigração me barrou", contou Oliveira. "Ouvi muitos xingamentos, falaram que eu era mentiroso e estava ali para fazer coisas horrorosas".

O ator ficou detido em uma sala por aproximadamente 30 minutos, sem saber o que iria acontecer. Após revistarem sua mala, as autoridades americanas o liberaram, mas a experiência já havia deixado marcas profundas.

Vida imita arte em novo filme

Ironia do destino, essa vivência pessoal serviu como um verdadeiro "batismo" para seu papel em "Quase Deserto", filme que acaba de estrear nos cinemas brasileiros. Na produção dirigida por José Eduardo Belmonte, Oliveira interpreta Luís, um brasileiro que enfrenta dificuldades para legalizar sua documentação nos Estados Unidos.

O longa-metragem, filmado em Detroit, Michigan, apresenta uma trama que mistura drama e suspense. A história acompanha o personagem de Oliveira cruzando caminhos com Benjamin (Daniel Hendler), um jornalista argentino também em situação irregular, e Ava (Angela Sarafyan), uma jovem americana com síndrome rara.

O filme incorpora elementos da realidade política americana, incluindo discursos de Joe Biden e Donald Trump durante o período de campanha presidencial em que se passa a narrativa.

Do Oscar à realidade dura

A primeira experiência de Vinícius de Oliveira nos Estados Unidos havia sido completamente diferente. Em 1998, ele visitou o país durante a campanha do Oscar de "Central do Brasil", quando tudo era "festa e alegria" para o então criança em meio ao glamour hollywoodiano.

O ator reflete sobre como sua vida poderia ter sido diferente sem o sucesso do filme que o revelou: "Sem o Central do Brasil minha vida não seria fácil não, viu?". Ele lembra que morava no Complexo da Maré, uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro, e havia abandonado a escola aos 12 anos.

Sua relação com Fernanda Montenegro, sua parceira de elenco no filme clássico, permanece forte. "A gente se fala bastante", revela, destacando a energia extraordinária da atriz de 95 anos.

Planos internacionais

Apesar da experiência negativa com a imigração americana, Oliveira não guarda mágoas e planeja investir na carreira internacional. Ele retomou as aulas de inglês para ganhar fluência e acredita que as portas estão se abrindo para artistas brasileiros na indústria cinematográfica americana.

"A galera viu que eles têm um retorno de mídia muito forte com os brasileiros, como provou a Fernanda Torres, o Selton Mello e agora o Wagner Moura", analisa o ator, demonstrando otimismo sobre as possibilidades que se apresentam.

A jornada de Vinícius de Oliveira - da favela carioca ao sucesso internacional, passando pela experiência traumática com a imigração - reflete as complexidades e contradições do sonho americano na visão de um artista que conhece ambos os lados da moeda.