O universo dos mangás japoneses oferece reflexões profundas sobre inteligência artificial muito antes do tema se tornar popular na cultura contemporânea. Três obras em particular - Astro Boy, Pluto e Pino - se destacam por utilizar personagens robóticos para explorar questões filosóficas e éticas complexas sobre a relação entre humanos e máquinas.
Astro Boy: O pioneiro das discussões sobre IA
Criado por Osamu Tezuka na década de 1950, Astro Boy (conhecido como Tetsuwan Atom no Japão) apresenta um mundo onde robótica avançada e inteligência artificial coexistem com humanos. A história gira em torno de um robô construído para substituir o filho falecido de seu inventor, Tobio.
A jornada emocional de Astro Boy é central na narrativa. Sua busca por se tornar "real" e sua experiência com emoções como amor, perda e desejo de aceitação levantam questões fundamentais sobre os limites da consciência artificial. O mangá também introduz seu próprio conjunto de "Leis dos Robôs", antecipando debates éticos que só ganhariam força mundial décadas depois, como as diretrizes éticas da União Europeia para IA.
Pluto: Uma releitura madura e complexa
Naoki Urasawa reconta um famoso arco de Astro Boy em Pluto, transformando-o em um suspense policial que aprofunda ainda mais as questões sobre inteligência artificial. A história segue o detetive robô Gesicht, que investiga uma série de assassinatos dos robôs mais poderosos do mundo.
Pluto explora conceitos complexos como a possibilidade de uma IA avançada desenvolver emoções humanas destrutivas, como ódio e tristeza. Gesicht luta com suas próprias memórias fabricadas e sentimentos de culpa, desafiando a noção de que inteligências artificiais são necessariamente lógicas e perfeitas.
A obra também usa seus personagens robóticos para comentar sobre conflitos humanos, como a 39ª Guerra da Ásia Central - um paralelo claro com a Guerra do Iraque - e questões de preconceito, já que os assassinatos têm como alvo robôs envolvidos na defesa dos direitos das máquinas.
Pino: O futuro próximo da IA
Criado por Takashi Murakami, Pino se passa em um futuro próximo e gira em torno de uma inteligência artificial desenvolvida para superar a capacidade humana. A IA é utilizada em robôs autônomos que prestam diversos serviços à sociedade.
A narrativa explora a evolução tecnológica e a possibilidade de robôs desenvolverem sentimentos e questionamentos existenciais. A jornada emocional dos personagens humanos e da IA aborda temas como luto, apego e a capacidade humana de amar, enquanto discute os limites da inteligência artificial e como a sociedade e corporações reagem à possibilidade de máquinas realmente sentirem.
Legado e disponibilidade no Brasil
Estas três obras demonstram como a cultura pop japonesa tem antecipado e aprofundado discussões sobre inteligência artificial por décadas. Todos os títulos estão disponíveis em edições brasileiras, permitindo que leitores locais tenham acesso a essas reflexões profundas sobre tecnologia e humanidade.
As histórias não apenas entretêm, mas também funcionam como ferramentas para compreender melhor os desafios éticos e filosóficos que enfrentaremos com o avanço acelerado das tecnologias de IA no mundo real.