O ano de 2025, que marcou o 60º aniversário da TV Globo, deveria ser de celebração, mas ficou marcado por grandes expectativas frustradas na teledramaturgia e nos reality shows. Duas apostas de peso, uma em cada lado da disputa audiométrica, terminaram o ano com o saldo de terem decepcionado o público e a crítica.
O remake que perdeu a essência
Uma das homenagens mais aguardadas para a data foi o remake da novela "Vale Tudo", clássico original de 1988 escrito por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. A releitura, com texto de Manuela Dias, prometia atualizar a trama para os dias atuais. No entanto, a adaptação acabou se distanciando profundamente do cerne da história original.
Em vez de explorar a questão moral central – "vale tudo para vencer na vida?" –, a nova versão priorizou o aspecto comercial. A narrativa foi poluída por ações de marcas e publicidade, desviando o foco do conflito principal. Outro ponto criticado foi a desvalorização da personagem de Taís Araújo. Raquel, que era o eixo moral na trama original, viu seu protagonismo reduzido, sendo relegada a um papel quase coadjuvante, o que esvaziou seu poder dentro da história.
Apesar de registros positivos de audiência, o consenso entre analistas foi de que o saldo artístico foi decepcionante, frustrando os fãs que esperavam uma releitura fiel à essência do clássico.
A aposta que não vingou na concorrência
Do outro lado da disputa, o SBT também enfrentou um revés significativo. A emissora apostou alto na contratação do produtor Boninho, que deixou a Globo, projetando ele como a grande aposta para 2025. A missão era alavancar a audiência com a nova temporada de "The Voice Brasil", lançada no segundo semestre.
O resultado, porém, foi o oposto do esperado. O programa, comandado por Tiago Leifert, não só falhou em aumentar os índices como fez a audiência cair. Dados do Kantar Ibope obtidos pela coluna GENTE em novembro de 2025 mostraram que o reality marcou uma média de 3,1 pontos, ficando abaixo dos 3,5 pontos que o canal registrava no horário antes da estreia da atração.
Para piorar o cenário, desde sua estreia, o programa não conseguiu tirar o SBT do terceiro lugar, mantendo a emissora atrás da TV Record e longe da vice-liderança, que era um dos objetivos principais.
Um ano de lições para a TV aberta
As duas experiências em 2025 servem como um alerta para as emissoras. O caso de "Vale Tudo" demonstra que remakes exigem respeito à essência da obra original, e que o excesso de comercialização pode custar caro em termos de qualidade narrativa. Já a passagem de "The Voice" pelo SBT mostra que a simples troca de emissora ou de produtor não é garantia de sucesso, especialmente em um cenário de audiência consolidado e disputado.
O ano que celebrou seis décadas da TV Globo acabou destacando, por contraste, que a fidelidade ao conteúdo e a uma estratégia clara são mais importantes do que nunca para conquistar e manter o telespectador da TV aberta.