Artista e bióloga transforma quartos infantis com fauna brasileira
Arte educativa leva fauna brasileira para quartos infantis

Nas montanhas da Serra da Mantiqueira, em Itajubá, Minas Gerais, cresceu uma menina cujo olhar foi moldado pelas araucárias, pelos sabiás e pelas cores vibrantes da natureza. Hoje, aos 30 anos, Marina Mohallem transformou essa conexão profunda com o meio ambiente em uma missão que combina arte, ciência e educação. Ela leva a rica fauna brasileira para dentro de quartos infantis, criando ambientes lúdicos e cheios de significado.

Da biologia para as artes: uma trajetória natural

Marina sempre pintou, mas foi durante a graduação em Ciências Biológicas na UNIFAL e, posteriormente, no mestrado em Ciências Ambientais, que seu trabalho artístico ganhou um novo propósito. Observando processos como a polinização em trabalhos de campo, ela encontrou inspiração infinita em formas, cores e temas da biodiversidade local.

Em 2020, ela criou o perfil @mamoharte para divulgar suas pinturas em madeira, tela e outros suportes. O interesse do público cresceu, e entre as encomendas de flores e aves, surgiu uma demanda especial: a decoração de quartos de bebês e crianças. Foi aí que Marina percebeu uma grande oportunidade – e uma lacuna a ser preenchida.

Substituindo o safari pela mata atlântica

A artista notou que a maioria dos pedidos seguia um padrão comum no universo infantil: leões, girafas e elefantes, temas de safari. “Faltavam referências com animais brasileiros”, explica Marina. A virada em sua carreira aconteceu quando uma cliente pediu um quarto totalmente dedicado à biodiversidade nacional, com araras, onça-pintada, bicho-preguiça e macacos.

O projeto foi um sucesso, viralizou nas redes sociais e abriu as portas para o que Marina sempre desejou: ver crianças crescendo em ambientes que celebram a fauna nativa. Ela já decorou quatro quartos com essa temática, e a demanda só aumenta. Em uma de suas pinturas mais repercutidas, ela retratou a paisagem da Mantiqueira com tucano, lobo-guará, sabiás, sagui, joão-de-barro e, é claro, as imponentes araucárias.

Arte como ferramenta de conservação

Para Marina, a arte tem um poder transformador. “A arte desperta conexão. Quando a gente conhece, a gente cuida”, afirma. Ela acredita que incluir espécies brasileiras na decoração vai além da estética: cria ambientes com identidade e afeto. “É o sabiá que canta na janela, o sagui da Mantiqueira. Isso traz familiaridade”, diz.

Ela destaca que essa presença desde a infância pode mudar a relação das novas gerações com a natureza. Crescer vendo uma onça-pintada ou um lobo-guará na parede estimula a curiosidade e um sentimento de cuidado, como plantar uma semente de conservação. Entre suas espécies preferidas para os projetos infantis estão o sabiá-laranjeira e animais ameaçados, como a onça-pintada e o mico-leão-dourado.

Educação que vai além das paredes

Em 2025, Marina decidiu se dedicar integralmente à arte e ao ensino. Ela organiza oficinas de pintura mensais em Itajubá, onde cada encontro é dedicado a uma espécie ou conjunto da fauna e flora regional. A atividade sempre começa com uma aula de ecologia, unindo teoria e prática artística.

Como símbolo do ciclo de aprendizado e conservação, ao final de cada oficina, os participantes recebem uma muda de araucária plantada em uma caneca pintada pela própria artista. Marina também expandiu seu trabalho para outros objetos, como pratos e telas, e tem grandes planos para o futuro.

“Quero criar materiais educativos, fazer parcerias com escolas e até projetos com prefeituras”, sonha a artista. Seu objetivo é pintar murais e postes urbanos com espécies locais, trazendo os nomes científicos e populares para o cotidiano das cidades. Dessa forma, ela acredita que é possível reconectar as pessoas com a natureza, levando a educação ambiental para todos os espaços, de um quarto de criança a uma rua movimentada.