Um espetáculo grandioso de Natal transformou a Praça Aderval da Rocha, no bairro Pintolândia, em um verdadeiro teatro a céu aberto neste sábado (6). O evento, batizado de 'Natal da Paz', reuniu um público impressionante de mais de 38 mil pessoas para assistir a uma apresentação que uniu música, teatro e dança em uma narrativa emocionante.
Uma ópera popular com coração social
O grande diferencial da edição deste ano foi a adoção do formato de ópera popular. A produção contou com um elenco massivo de mais de 1.500 artistas, sendo a grande maioria integrantes de projetos sociais mantidos pela Prefeitura de Boa Vista. O espetáculo, com o tema 'A jornada de todos nós', narrou a viagem dos Três Reis Magos a Belém através de 19 músicas inéditas, executadas ao vivo por uma orquestra sinfônica formada por músicos do Instituto Boa Vista de Música.
A produção foi quase totalmente realizada por talentos roraimenses. No palco, estiveram juntos participantes de diversas gerações, vindos de programas como ArtCanto, Dedo Verde, Rumo Certo e o projeto Crescer. A apresentação, que durou cerca de duas horas, exigiu grande fôlego da equipe, já que o formato de ópera exige a execução das músicas em sequência, sem intervalos.
Histórias de superação e alegria no palco
Entre as luzes e os figurinos deslumbrantes, histórias inspiradoras roubaram a cena. Aos 74 anos, a aposentada Maria Alves Carneiro integra o projeto Cabelos de Prata e participa do musical há três edições. Vestida com o figurino de 'povo de Belém', ela demonstrou que a idade não é limite para os sonhos. "Idoso tem que se divertir, brincar, dançar, fazer o que quiser da vida", declarou, com energia contagiante.
Sua professora, Maria Dilsa dos Reis, de 61 anos, que comandou os ensaios do grupo desde novembro, define seus alunos como uma "biblioteca ambulante" de histórias. "Tem idosos que nunca dançaram na vida e hoje estão dançando felizes. Para eles, é uma nova vida", relatou a instrutora, emocionada.
Do público ao palco: um ciclo de transformação
O evento vai além do entretenimento e funciona como uma porta de entrada para o mercado de trabalho artístico. Janesson Santana, de 36 anos, é um exemplo vivo disso. Ele começou sua história no Natal da Paz como espectador, há 12 anos. Hoje, atua como instrutor do projeto Crescer e foi um dos artistas no palco, orientando jovens em situação de vulnerabilidade.
"Vários aqui eu acompanhei crescendo e hoje estão como bailarinos. Eram crianças de projetos sociais e hoje já são servidores. É lindo ver essa trajetória", celebrou Janesson. Ele destacou a emoção genuína do elenco: "Eles se abraçam no final. Nós não pedimos para fazerem isso, mas eles sentem o momento. É um brilho mágico no olhar".
Segundo o diretor musical do evento, Davi Nunes, essa é uma das missões mais importantes do espetáculo. "Os alunos se veem como artistas e buscam aí uma carreira, uma profissão, uma forma de sustentar suas famílias. Esse primeiro momento deles aqui é muito importante", avaliou.
O espetáculo também contou com a simbólica participação de mães beneficiárias do projeto Família que Acolhe, que subiram ao palco grávidas para representar o cuidado materno e o nascimento dentro da narrativa natalina.