Espetáculo Jaity Muro: Um Choque de Mundos entre a Cultura Indígena e a Cidade de Presidente Prudente
Jaity Muro: o choque entre o urbano e o indígena em cena

Não é todo dia que a gente para pra pensar no chão que pisa, né? De quem era essa terra antes do asfalto, do shopping, do trânsito barulhento. Pois é justamente essa pergunta — incômoda e necessária — que o espetáculo Jaity Muro joga na cara do público de Presidente Prudente.

Imagine só: de um lado, a agitação cinzenta da cidade, com seus muros altos e horários apertados. Do outro, uma conexão ancestral com a terra, uma visão de mundo que enxerga a natureza não como um recurso, mas como uma extensão da própria vida. O espetáculo, uma criação da Cia. de Teatro do Sesc, mergulhou de cabeça nesse abismo que separa (ou une?) esses dois Brasis.

E não foi só uma encenação qualquer. Foi um verdadeiro soco no estômago, uma experiência sensorial que deixou o público com a pulga atrás da orelha. Os atores, com uma energia que dava pra sentir na pele, construíram pontes entre esses universos tão distantes. Usaram o corpo, a voz, elementos visuais marcantes — tudo pra traduzir aquele conflito silencioso que a gente carrega sem nem perceber.

Mais do que entretenimento, um convite à reflexão

O que significa 'pertencer' a um lugar? Será que a gente realmente ocupa um território, ou é ele que ocupa a gente? O Jaity Muro não veio com respostas prontas — longe disso. Ele prefere abrir feridas, perturbar, cutucar a plateia com questões que doem, mas que precisam ser feitas. Principalmente num país que ainda trata sua herança indígena com tanta negligência.

E olha, a plateia saiu diferente. Dá pra ver nos olhos das pessoas aquele misto de admiração e desconforto. Aquele silêncio carregado depois que as luzes se acendem não é à toa. A peça mexe com coisas muito profundas, com conceitos que a gente aprendeu a aceitar sem questionar.

Por que isso importa agora?

Num momento em que o debate sobre demarcações de terra, direitos indígenas e preservação ambiental está mais quente do que nunca, uma obra como essa é um raio. Ela lembra a todos — moradores da cidade, estudantes, políticos — que a história não começa com a fundação do município. Que há camadas e mais camadas de vida sob o concreto que a gente chama de progresso.

O Sesc Prudente, ao abrir suas portas para essa discussão, cumpre um papel que vai muito além da cultura. É educação, é cidadania, é um lembrete potente de que a arte tem sim o poder de transformar a maneira como enxergamos o mundo ao nosso redor. E, talvez, de nos fazer enxergar um pouco de nós mesmos no processo.

Quem foi não esquece tão cedo. E quem não foi... bem, perdeu a chance de ver um daqueles trabalhos que ficam ecoando na mente por dias. Daqueles que mudam a gente, mesmo que só um pouquinho.